Copom decide manter a Selic em 13,75%
Autarquia está determinada a controlar a inflação e só vai iniciar o ciclo de queda dos juros quando a inflação se estabilizar, afirma o comunicado da decisão
Por Guilherme Naldis
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil decidiu manter a taxa básica de juros, a Selic, no patamar atual de 13,75%. É a quinta vez seguida que a autarquia opta pela continuidade da estratégia de combate à inflação e de ancoragem das expectativas do mercado financeiro.
“O comunicado foi mais agressivo do que o esperado“, afirma Gustavo Arruda, Diretor de Pesquisas para América Latina do BNP Paribas, mencionando a possibilidade de um novo aumento de juros caso pelo BC caso a inflação volte a subir. “O foco foi nas expectativas de inflação de curto e longo prazo”, completou. A instituição projeta que o corte de juros – tão aguardado pelo governo e por alguns agentes econômicos – deva acontecer somente no final do primeiro semestre de 2024.
O ciclo de manutenção dos juros terminais no nível corrente se iniciou em setembro de 2022, quando o Bacen passou a avaliar que a trajetória de inflação não era mais tão preocupante. Ainda assim, a equipe liderada por Roberto Campos Neto, que votou pela persistência unanimemente, afirma que “a incerteza em torno das suas premissas e projeções [de inflação] atualmente é maior do que o usual”.
“A reoneração dos combustíveis ajudou a reduzir a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo. Porém, a conjuntura marcada por alta volatilidade nos mercados financeiros e expectativas de inflação desancoradas demanda maior atenção na condução da política monetária pelo Comitê”, explica Vinicius Romano, analista de renda fixa da Suno Research.
Responsabilidade fiscal: como funciona e por que tem a ver com o seu bolso
O Bacen aponta que, caso a inflação se estabilize, as próximas reuniões já podem resultar em cortes nos juros terminais. Ainda assim, o aumento dos preços persistente nos Estados Unidos e na Europa pressiona a inflação brasileira. A autarquia também afirma que a recente quebra de bancos do exterior foi levada em conta na deliberação.
A Autarquia elencou alguns fatores que pode favorecer a queda de juros, que também é almejada por ela, mediante a queda da inflação. Elas são:
- Queda prolongada e mais intensa dos preços das commodities internacionais, como minério de ferro e petróleo
- A desaceleração da atividade econômica global em níveis maiores que o projetado, indicando decrescimento de preços
- Redução das emissões de crédito de risco aqui no Brasil dado os juros altos
Inflação controlada: como os Bancos Centrais definem a taxa de juros?
Entre os fatores que preocupam o BC e o impedem de iniciar a queda de juros, estão:
- Incerteza sobre a tramitação e a proposta do novo arcabouço fiscal, prometido pelo Ministério da Fazenda de Fernando Haddad
- A continuidade da inflação global a níveis preocupantes
- A insistência da desancoragem das expectativas
Para o economista-chefe da Necton, André Perfeito, “o recado é simples: se a inflação não cair, o BC não irá cortar os juros”. “Está praticamente descartado um corte em maio e junho apenas se as expectativas ancorarem”, completa.
Para entender mais sobre investimentos e macroeconomia, confira os conteúdos gratuitos do Hub de Educação Financeira da B3.