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O impacto do novo salário mínimo no seu bolso e no caixa do governo

A partir de maio, o piso nacional passa de R$ 1.302 para R$ 1.320; Analistas avaliam que o impacto do novo salário mínimo será pequeno para a economia e enorme pelo lado do ajuste fiscal.

Carteira cheia de dinheiro. Foto: Adobe Stock
Saiba como a possível mudança no JCP pode afetar investidores Foto: Adobe Stock

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou nesta semana o reajuste do salário mínimo de R$ 1.302 para R$ 1.320 a partir de 1º de maio. O valor havia sido prometido durante a transição de governo no fim de 2022. A medida faz parte de uma tentativa de emplacar uma agenda positiva.

“A gente vai, em maio, reajustar para 320 [R$ 1.320] e estabelecer uma nova regra de salário mínimo, que a gente já tinha no meu primeiro mandato. (…) O salário mínimo terá, além da reposição inflacionária, o crescimento do PIB. Porque é a forma mais justa de você distribuir o crescimento do PIB. Não adianta o PIB crescer 14% e você não distribuir” disse Lula.

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Para a professora de economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Juliana Inhaz, o impacto do novo salário mínimo ainda será pequeno e focado em alguns grupos de brasileiros.

“O aumento certamente gera um impacto positivo dentro da economia, porém muito pequeno e focado em aposentados, pensionistas e pessoas que recebem algum tipo de assistência ou auxílio – que não é a grande maioria da população”, explica.

Para o dia a dia dos brasileiros, a economista do Insper lembra que a inflação em patamares elevados e o alto endividamento das famílias é significativa demais para que essa avanço do salário mínimo eleve o poder de compra das famílias.

“Quem receber esse adicional provavelmente não vai aumentar muito seu consumo e sim tentar retomá-lo ao nível de quando os preços estavam mais baixos. A população hoje está muito endividada. Então parte dessas pessoas vai aproveitar esse reajuste, que não é muito grande, para talvez conseguir pagar uma parte das suas dívidas”, afirma Inhaz.

Pelo lado dos brasileiros que estão empregados, atualmente 34,7 milhões dos 97,5 milhões de ocupados no país recebem um salário mínimo. O levantamento é da LCA Consultores, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A professora do Insper afirma que o reajuste, em um primeiro momento, aumenta o dinamismo dentro da economia. No entanto, essa injeção de recursos tem um lado perverso que é a pressão sobre a inflação.

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“A gente pode colher um efeito ruim disso que é uma inflação um pouco maior daqui a uns quatro, cinco meses. Então qualquer tipo de ganho que as pessoas tiveram com esse aumento, pode ser facilmente revertido”, explica.

Salário mínimo x cesta de consumo

O valor do impacto do novo salário mínimo a partir de maio é insuficiente para comprar duas cestas básicas em 11 capitais brasileiras. Os dados de janeiro deste ano são do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

A cidade de São Paulo é a capital onde o conjunto dos alimentos básicos apresentou o maior custo: R$ 790,57. Com base nesse valor, o Dieese calculou que o valor base para sustentar uma família de quatro pessoas no país seria de R$ 6.641,58. Nessa conta se consideram itens como alimentação, educação, higiene, lazer, moradia, saúde, vestuário, transporte e até previdência.

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Impactos ficais para o governo

O governo federal, desde o segundo semestre do ano passado, passou a relatar dificuldades para o reajuste do mínimo por conta do aumento no número de pessoas aposentadas do INSS – que ampliou os gastos com a Previdência.

Em dezembro, o governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL) enviou um ofício à equipe da transição calculando que, por conta desse aumento e da alta real do mínimo, haveria um impacto extra de R$ 7,7 bilhões nas contas públicas. Disse ainda que essa cifra não estava prevista no Orçamento de 2023.

Para Juliana Inhaz, o reajuste do salário mínimo neste momento vem na contramão do equilíbrio fiscal tão defendido pelo governo e demandado pelo mercado.

“O governo se compromete com um desembolso maior atrelado ao reajuste que vai deixá-lo mais distante de um equilíbrio fiscal. O governo está apostando em um impacto positivo na economia, só que historicamente a gente sabe que isso não acontece. Então, estamos nos aprofundando em um problema fiscal e gastando um recurso para um resultado muito pequeno”, conclui a Inhaz.

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