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Meta de 5% para o crescimento da China em 2023 decepciona o mercado

Valor mais baixo em três décadas veio após o PIB do país avançar 3% em 2022 - pior desempenho desde 1970. Meta menor não deve impactar comércio com o Brasil.

China. Foto: Adobe Stock
A China ainda é o país com maior crescimento no mundo. Foto: Adobe Stock

O mercado financeiro mundial abriu a semana decepcionado com a meta de crescimento econômico da China em 2023 que será de 5%. O valor foi anunciado pelo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang em um discurso durante o Congresso do Partido Comunista – iniciado neste domingo, 05/03.

A meta foi considerada modesta pelos analistas do mercado – principalmente após a desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) chinês durante os anos de pandemia. A política de ‘Covid-Zero’ – que estabeleceu rígidos controles na segunda maior economia do mundo – levou o PIB ao menor patamar em mais de cinco décadas. A alta de 3% em 2022 ficou bem abaixo da meta de 5,5% e dos avanços da economia chinesa no pré-pandemia.

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Durante o discurso, o primeiro-ministro chinês evitou falar de estímulos para ajudar na recuperação da economia do país – que enfrenta baixa confiança nos negócios e um mercado imobiliário fraco. Li Keqiang afirmou que a China vai adotar uma política monetária prudente, principalmente diante de uma economia global instável.

“A inflação global continua alta, o crescimento econômico e comercial mundial está perdendo força e as tentativas externas de reprimir e conter a China estão aumentando. (…) Neste ano, é fundamental priorizar a estabilidade. (…) Devemos dar prioridade à recuperação e expansão do consumo”, afirmou.

Apesar da meta de crescimento estabelecida pelo governo ter sido bem conservadora, os analistas econômicos avaliam que a reabertura econômica da China tem acontecido melhor que o esperado – puxada pela recuperação dos gastos do consumidor. O banco UBS espera que o PIB cresça 5,4% em 2023, acima da estimativa anterior de 4,9%.

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“O número está abaixo da meta do ano passado (5,5%) e decepcionou os mercados, que deram uma pausa após o rali da semana passada. A maioria das casas de pesquisa já projetava crescimento do PIB acima da meta para este ano (5,5% e 6%). Os mercados de ações e os preços das commodities caíram esta manhã por conta da notícia”, explicou a XP em relatório.

Mercado Imobiliário

O mercado imobiliário da China corresponde a um quarto do PIB da segunda maior economia do planeta. Desde a pandemia, o setor sofre com a falta de confiança depois de uma onda de inadimplência dos incorporadores imobiliários que deixou dezenas de obras inacabadas.

O caso mais emblemático foi da Evergrande,em 2021 – segunda maior incorporadora imobiliária do país – com dívidas acima de US$ 300 bilhões.

O estrategista de Comércio Exterior do Banco Ourinvest e ex-secretário do MDIC Welber Barral, explica que há um temor na China de que aconteça problemas – como nos Estados Unidos, em 2009 – quando houve uma forte perda no valor de ativos imobiliários.

“Há um temor, porque grande parte dos investimentos chineses são do setor de imóveis – o que criou uma bolha imobiliária nos últimos anos. Então há um medo que pudesse acontecer algo como nos Estados Unidos no final dos anos 2009. Uma reação do governo chinês, então, tem sido justamente não dar mais estímulos para a economia”.

E o Brasil com isso?

A China é o principal parceiro comercial do Brasil com 26,8% de participação nas nossas exportações em 2022, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

O superávit comercial com o país no ano passado foi alto – de US$ 28,97 bilhões – mas menor do que o registrado em 2021 que marcou US$ 61,76 bilhões. A queda no desempenho foi puxada pelo menor preço do minério de ferro no mercado internacional. No entanto a soja segue como principal produto comprado pelos chineses.

O ex-secretário do MDIC afirma que apesar da menor expectativa de crescimento apontada pelo governo da China, isso não terá impacto nas exportações brasileiras de soja – que é o principal produto exportado para lá.

“No caso do minério de ferro, já tem havido uma queda relativamente no preço nos últimos dois anos. Pelo lado da soja, o que se espera é a continuidade da demanda – até por conta da destinação para alimentação animal e humana na China. Então, não se espera uma queda do preço da soja que pudesse ser afetada por esse eventual menor crescimento da China”, conclui Welber Barral.

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