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Orçamento apertado faz brasileiros mexerem nas economias para cobrir gastos

Mais da metade da população precisou de dinheiro para despesas extras e a maioria sacou recursos de aplicações financeiras. Poupança tem saída líquida recorde no 1º bimestre

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Segundo o Banco Central, as retiradas nas cadernetas superaram os depósitos em R$ 45,14 bilhões. Foto: Pexels

A queda no orçamento das famílias, diante de uma inflação ainda elevada e da taxa básica de juros em 13,75% – maior patamar em seis anos, levou mais da metade dos brasileiros (55%) a tomar alguma atitude para cobrir gastos emergenciais no ano passado. É o que revela uma pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em parceria com o Datafolha.

Dentre esse grupo, 41% teve de retirar dinheiro de aplicações financeiras ou outras reservas; 29% pediu empréstimos ou usou cheque especial ou rotativo do cartão; e 14% vendeu algum bem. Os valores estão no mesmo patamar da pesquisa do ano anterior, com destaque de alta para a maior procura por crédito para emergências.

Em relação as classes sociais, houve um aumento de 45% em 2021 para 51% no ano passado dos brasileiros nas classes D e E que precisaram de dinheiro para cobrir gastos extras. Já para aqueles que se declararam das classes AB (55%) e C (57%), os números ficaram parecidos com o ano anterior – mas ainda em patamares elevados na busca de recursos para situações de emergência.

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O superintendente de Educação da Anbima, Marcelo Billi, explica que a perda de renda das famílias no ano passado ainda está relacionada com o cenário adverso do pós-pandemia. “O ano passado foi um período de desafios. Novamente muitas pessoas tiveram perda de renda em suas famílias e buscaram formas de readequar o orçamento”.

O especialista da Anbima alerta para a falta de educação financeira na hora de tomar uma atitude para cobrir gastos emergenciais. Com pouca informação sobre produtos financeiros, muitas famílias optam por dívidas mais caras – o que deixa a situação financeira ainda mais apertada.

“Preocupa também o aumento da procura por produtos financeiros que possuem taxas mais altas de juros, como o cheque especial e o rotativo do cartão. Por isso, a educação financeira é tão importante. Com mais conhecimento sobre os produtos, é possível fazer melhores escolhas e pagar menos juros”, conclui.

Retirada de recursos da poupança

O resultado da pesquisa coincide com o recorde na saída líquida de dinheiro da poupança no primeiro bimestre de 2023. Segundo o Banco Central, as retiradas nas cadernetas superaram os depósitos em R$ 45,14 bilhões.

Apenas no mês passado, os saques superaram os depósitos em R$ 11,51 bilhões – maior retirada líquida para fevereiro já registrada pelo BC. Até então, a maior saída de recursos para esse mês havia sido registrada em 2016 (-R$ 6,63 bilhões). A série histórica da poupança tem início em janeiro de 1995.

Com a saída de recursos da poupança no mês passado, o estoque dos valores depositados, ou seja, o volume total aplicado, registrou queda. Em janeiro, estava em R$ 972,6 bilhões, recuando para R$ 968 bilhões no fim de fevereiro.

O movimento coincide com a falta de planejamento para os tradicionais gastos de início de ano: impostos como o IPVA, IPTU, compras de Natal parceladas e viagens de férias.

Não podemos deixar de citar também a inflação e a inadimplência. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já acumula alta de 1,37% no ano e 5,60% nos últimos doze meses. Segundo a Serasa Experian, 70 milhões de brasileiros começaram 2023 negativados – um recorde.

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Perda de rendas das famílias

O quadro de aperto no orçamento das famílias reflete também uma forte perda de renda dos brasileiros. Segundo a pesquisa da Anbima, 43% dos entrevistados disseram que perderam ganhos em 2022 contra 25% que tiveram aumento de renda e 32% que não responderam.

As classes sociais D e E foram as que mais apresentaram perdas (52%) e foram seguidas pela C (44%) e AB (32%).    

A pesquisa da Anbima ouviu presencialmente 5.818 pessoas das classes AB, C e DE, de 16 anos ou mais, nas cinco regiões do país. A margem de erro da pesquisa é de um ponto percentual, para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.

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