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Vale a pena guardar dinheiro para a faculdade dos filhos?

Segundo especialistas, os pais devem primeiro investir na conquista da própria liberdade financeira do que em um projeto de vida para os filhos

Porquinho rosa de louça usado para guardar moedas, com uma criança pequena ao fundo
Criança guarda dinheiro em seu porquinho. Fonte: Adobe Stock

Ter um filho é uma decisão que vai mudar a sua vida em todos os aspectos. Emocional, corporal, social… E, também, financeiro. 

É necessário preparo para os gastos da vida da criança. Mas, de acordo com Graziele Delgado, professora de finanças e especialista em psicologia econômica, os pais devem priorizar investir para a conquista da liberdade financeira do que investir em um projeto de vida para os filhos.

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Isso porque o mercado financeiro oferece variáveis mais “previsíveis” que as mudanças que possam ocorrer na vida de uma pessoa. Por isso, a especialista desaconselha que pais poupem dinheiro a partir do nascimento do filho pensando em um “projeto de vida” para a criança, especialmente uma faculdade.

“Primeiro: não sabemos como o mercado de trabalho vai estar no futuro. Segundo: não sabemos qual vai ser a escolha que esse jovem vai fazer quando tiver a idade de resgatar o dinheiro. Será que vai ser boa?”, questiona.

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Não há como prever um futuro certo para o bebê

Delgado argumenta que as rápidas mudanças na educação e as novas possibilidades de trabalho impedem que se planeje um futuro certo para um bebê.

“Hoje, existem profissões que não existiam ano passado. E muitas profissões atuais estão para desaparecer em poucos anos. Talvez não existam nem faculdades daqui a 20 anos”, justifica.

Ela também elenca uma alteração de comportamento geracional O hábito dos filhos cuidarem dos pais quando forem idosos tende a desaparecer conforme os avanços da medicina permitam vidas melhores para os pais. Uma velhice independente financeiramente faz mais sentido do que precisar recorrer aos filhos por ajuda, argumenta. 

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Ela exemplifica: “às vezes o pai guarda um dinheirão para investir no filho e acaba que o investimento não dá tantos frutos assim. Resultado: os dois ficam apertados”. Por isso, a professora recomenda que os pais foquem em garantir suas aposentadorias por si, poupando a si mesmos e aos filhos.

Quando uma pessoa não se planejou para ter a sua liberdade financeira no futuro, esta deve ser sua prioridade mais imediata, diz Thiago Godoy, head de educação financeira da XP. “É como aquela história da máscara do avião: primeiro colocamos a máscara de oxigênio em nós mesmo para, depois, salvar os outros”, exemplifica.

Projeção financeira

Se os pais já tiverem uma boa reserva para a aposentadoria, nada impede que optem por guardar dinheiro para gastos relacionados à educação quando seu filho atingir a maioridade. Afinal, é recomendável dividir nossa vida financeira em prazos e objetivos, conjuntos e individuais.

Delgado fez duas simulações de investimentos do quanto é possível economizar para os filhos em 20 anos realizando aportes mensais de R$ 50, R$ 100, R$ 150 e R$ 200. Os valores não consideram a inflação do período. 

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Os cenários comparam o rendimento da poupança com o do Tesouro Selic. Na opção da poupança, o rendimento mensal é de 0,76% ao mês quando a regra estabelece que este seja o valor de rendimentos quando a Selic está acima de 8,5%.

Já o Tesouro Selic renderá 1,07% ao mês, considerando a taxa de juros atual de 13,75% ao ano. O Imposto de Renda para rendimentos de renda fixa é de 15% após 720 dias de aplicação, que durará 20 anos ou 240 meses.

Aqui, a ideia é dar apenas uma referência, pois taxa Selic pode mudar, o que fará o rendimento de ambas as aplicações caírem.

Além disso, como o prazo do investimento é longo, é possível ter uma carteira de investimentos diversificada, inclusive aplicada na renda variável e em ações. Fundos de previdência também podem fazer sentido neste período. É importante que os investimentos mantenham o seu valor ante à inflação em períodos mais longos.

Aportes mensais de R$ 50

Caderneta de poupançaTesouro Selic
Rendimento mensal0,76%1,07%
Aporte mensalR$ 50,00R$ 50,00
Capital investidoR$ 12.000,00R$ 12.000,00
RendimentosR$ 22.165,65R$ 44.027,94
Imposto de RendaR$ 6.604,19
Valor final R$ 34.165,65R$ 49.423,75

Aportes mensais de R$ 100

Caderneta de poupançaTesouro Selic
Rendimento mensal0,76%1,07%
Aporte mensalR$ 100,00R$ 100,00
Capital investidoR$ 24.000,00R$ 24.000,00
RendimentosR$ 44.331,31R$ 88.055,88
Imposto de RendaR$ 13.208,38
Valor final R$ 68.331,31R$ 98.847,50

Aportes mensais de R$ 150

Caderneta de poupançaTesouro Selic
Rendimento mensal0,76%1,07%
Aporte mensalR$ 150,00R$ 150,00
Capital investidoR$ 36.000,00R$ 36.000,00
RendimentosR$ 66.946,96R$ 132.083,82
Imposto de RendaR$19.812,57
Valor final R$ 102.496,96R$ 148.271,25

Aportes mensais de R$ 200

Caderneta de poupançaTesouro Selic
Rendimento mensal0,76%1,07%
Aporte mensalR$ 200,00R$ 200,00
Capital investidoR$ 48.000,00R$ 48.000,00
RendimentosR$ 88.662,61R$ 176.111,76
Imposto de RendaR$ 26.416,76
Valor final R$ 136.662,61R$ 190.494,99

Por isso, o especialista recomenda que o ponto de partida seja a composição de uma reserva de emergência. Em seguida, que se invista em uma aposentadoria – com maiores e menores graus de risco. Ao mesmo tempo, é possível investir em objetivos financeiros paralelos. 

Eles podem ser viagens de curto e médio prazo ou pertences caros e muito desejados. Mas também menciona a necessidade de se preparar para o futuro – próprio e de quem se ama. 

“O mais importante do que isso é ter o hábito de gerar e poupar dinheiro. De fazer investimentos e colocar eles em produtos que vão te atender a prazos diferentes e sonhos diferentes”, aconselha Godoy.