Como diversificar a carteira com crédito privado de forma segura?
Risco desses ativos está atrelado à falência de bancos e endividamento de empresas
Por Rogério Piovezan
Os produtos financeiros de crédito privado voltam ao radar dos investidores que buscam a diversificação da carteira na renda fixa. O risco desses papéis está atrelado à eventual falência de bancos e endividamento de empresas que emitem esses ativos. Porém, esse tipo de investimento segue atrativo e pode ser investido de forma segura.
Desde o ano passado, muitos investidores pessoa física e institucionais passaram a desconfiar desse segmento. O que turvou o cenário foi o rombo bilionário nas contas bancárias da Americanas, a falência decretada do BRK e Portocred, a recuperação judicial da Oi e o endividamento da Light e da CVC.
Segundo dados da Serasa Experian, o número de pedidos de recuperação judicial aumentou 76,3% em agosto comparado com o mesmo mês do ano passado. A Serasa informou que esse foi o maior número do ano até agora e o segundo no ranking da série histórica iniciada em 2005. Para quem busca investir, contudo, vale destacar que a maioria dos pedidos são de micro e pequenas empresas – que não costumam emitir títulos de dívida no mercado de capitais.
Por outro lado, o valor dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) somou R$ 43,3 bilhões nos oito primeiros meses deste ano e, com isso, já supera o que foi registrado no ano passado inteiro. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Que títulos são esses?
Antes de mais nada, vale lembrar quais são os tipos de ativos do crédito privado. Eles são títulos de dívidas emitidos por empresas e instituições privadas. Por isso um dos maiores riscos associados a esses títulos é justamente a falência da companhia que os emitiu e o sua capacidade de pagar as dívidas.
Alguns dos ativos que fazem parte dessa cesta são CDBs, LCIs, LCAs, CRIs, CRAs e debêntures. Apenas os CRIs, CRAs e debêntures não entram no Fundo Garantidor de Crédito (FGC), um mecanismo que ressarce o investidor, no limite de até R$ 250 mil, caso aconteça um eventual calote da instituição financeira que emitiu o título.
Por que investir em crédito privado?
As emissões feitas pelas empresas e instituições financeiras estão sendo rapidamente esgotadas, segundo o CEO do PeerBR, Marcos Barros. Isso no momento em que a taxa básica de juros, a Selic, voltou ao ciclo de alta, passando de 10,50% para 10,75% ao ano, conforme decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central.
“Os ativos de crédito ainda se tornam relevantes, porque há investidores que procuram maior rentabilidade acima da referência, que é o juros. No fundo, os ativos de crédito são interessantes justamente para quem busca performance, rentabilidade acima da referência dos juros. E isso faz uma combinação ainda mais atraente, porque você tem um ponto de partida já mais alto [a Selic] e aí em cima disso você tem uma rentabilidade adicional proporcionada pelos ativos de crédito”, afirma.
Como diversificar com crédito privado de forma segura?
A primeira dica é evitar alocar uma parcela relevante de seus recursos no mesmo setor. “Você não precisa montar a sua carteira com crédito privado toda em varejo, por exemplo, porque isso gera problemas graves. E nem tudo, também, no agronegócio. É melhor dividir a carteira um pouco em energia, tecnologia, infraestrutura, imobiliário, debêntures, precatórios. Todas essas opções você encontra dentro do crédito”, observa Barros.
E qual o risco do crédito privado?
O prêmio de risco (a diferença entre a taxa básica de juros e a taxa a que as empresas acessam o crédito) está cada vez menor devido a uma combinação de fatores. “As altas taxas de juros elevam o custo do crédito, dificultando o pagamento de dívidas pelas empresas”, afirma o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, em nota. “A inadimplência crescente dos consumidores afeta o fluxo de caixa delas, enquanto a dificuldade no acesso ao crédito limita suas opções de financiamento.”
A inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), está em 4,24% no acumulado de 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse cenário reduz o poder de compra dos consumidores, o que diminui as vendas e impacta a saúde financeira dos negócios, conforme Rabi. “Esses fatores combinados criam um ambiente desafiador, levando muitas companhias a buscarem a recuperação judicial como forma de reestruturar suas dívidas e continuar operando”.
O que o investidor pode fazer?
Segundo Barros, o investidor pessoa física sem muito conhecimento pode tentar entender o risco efetivo daquele emissor ou buscar saber qual é a situação financeira da empresa. “Existem algumas formas de você se sentir um pouco mais seguro. Uma delas é se perguntar: se der errado no limite, quais são as garantias que eu tenho? Esse ativo faz parte do fundo garantidor? Esse ativo tem qual estrutura de garantia? É uma garantia real? Qual a especialidade da empresa? Há quanto tempo está no mercado? Está registrada na CVM ou não está? Isso é super relevante para ajudar o investidor também a decidir pela compra daquele ativo”.
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