Day Trade: o que é essa estratégia?
Quem quer operar com a compra e venda de ações em um dia precisa se preparar para isso, dizem especialistas
Por Rogério Piovezan
Quem se interessa por finanças e começa a buscar o tema nas redes sociais já deve ter se deparado com promessas de ganho rápido com o day trade. A estratégia tem sido tema frequente de influenciadores para engajar o público. Mas essa atividade embute riscos que muitas vezes não são tão divulgados.
Tudo sobre day trade: como funciona e dicas para operar
Um day trade é a estratégia de se vender e comprar ações no mesmo dia, por isso o nome. O objetivo é ganhar com a variação de preço de determinado ativo em um único pregão. Quem opera no day trade precisa acompanhar as movimentações do mercado financeiro, estudar gráficos e analisar cenários econômicos.
Para se ter uma ideia, ao menos um milhão de investidores compram e vendem ativos no mesmo dia, de acordo com dados da B3. Mas a atividade está sujeita a diversos erros. A combinação entre emoções, pressa e vontade de recuperar o dinheiro que se perdeu mexem com qualquer pessoa que se arrisca como trader.
Por isso, o Bora Investir conversou com um professor do mercado financeiro e com uma profissional trader para compreender os riscos envolvidos na atividade. Confira.
Estudo
Para a day trader Paula Reis, mais conhecida nas redes como Mulher Trader, diz que esta profissão não deve ser vista de forma isolada de outras fontes de renda e o seu emocional, acima de tudo, precisa estar bem equilibrado.
“Eu não tinha dinheiro para colocar no day trade. Tinha acabado de ir à falência. Montei uma loja, mas não tive sucesso. Eu não tinha como colocar [dinheiro] no day trade. Eu ia gastar em algo que não podia dar certo e eu não tinha conhecimento. Eu fui estudando a análise gráfica, eu queria essa carreira, mas comprava no swing [trade]. Eu abria o gráfico e escolhia os melhores prazos para a compra de fundos imobiliários e uma pequena carteira de ações. Isso foi importante para mim. Porque mesmo depois de me organizar e ter capital para começar o day trade, já tinha dois anos de tempo de tela e eu continuava com operações de médio prazo. Isso dava certo quando day trade dava errado.”
O estudo leva ao preparo. Exatamente o que pensa o professor de mercado financeiro Eduardo Becker. “O day trade é uma modalidade difícil, a qual só deveria ter direito aqueles que têm preparo. O que é ter preparo? É entender como funcionam todos os mecanismos da bolsa. Muitas pessoas vêm para o day trade buscando uma solução para problemas pessoais, como desemprego, falta de dinheiro. Numa ânsia de resolver essa dor, passam por cima da lição de casa que deveriam ter feito. Não é assim. Fazer dinheiro no day trade é tão demorado quanto investir. Lá você procura percentuais bem pequenos e precisa se alavancar, e se expõe a perder dinheiro de forma alavancada. Quando começa a perder, seus alarmes emocionais disparam. E se enrolam cada vez mais, muitos assumem riscos que não assumiriam em outros ambientes.”
Emoção
Reis conta que foi diagnosticada com ansiedade pouco depois de ter entrado no day trade. As fortes emoções da área a fizeram olhar para dentro de si e ela foi buscar ajuda profissional. Hoje, continua na modalidade, mas com uma boa gestão de riscos.
“O fato é que essa pressão emocional traz à tona seus piores fantasmas. Muita gente larga o mercado e diz que é cassino porque não conseguiu matar essa fera. Diz que ‘estou com tremedeira, mão gelada’, e a pessoa vira a página e vai fazer outra coisa. Fica a má impressão”, afirma.
Controlar as emoções passa pela disciplina e resistência à pressão. “Só que isso exige maturidade. Isso não vem com a idade. Tem pessoas de 20 anos que são maduras e outras de 70 anos que são infantis. Isso tem a ver com a experiência em lidar com a contrariedade. Então, cada um tem uma experiência de vida”, explica Becker.
Tempo ao tempo
O segredo, segundo Reis, é respirar fundo e entender que o dinheiro precisa de tempo, assim como diferentes fases da vida. “É tirar o imediatismo. Tudo na vida você esperou. Tinha que estudar anos no vestibular e depois entrar na faculdade, para depois fazer estágio e começar no trabalho. Mas no day trade, a pessoa já chega e quer sentar na janelinha. Então, permita esse tempo de estudo. Nessa trajetória, eu nunca conheci alguém que vive de mercado que tenha estudado menos de dois ou três anos.”
Para Becker, o mais recomendado é investir em ativos de renda fixa e variável, com uma carteira de produtos e uma reserva de emergência em detrimento do day trader. Isso tem motivo.
“É fácil fazer R$ 20 mil por dia. Mas a pessoa que faz R$ 20 mil tem três ou quatro cinco milhões guardados. Comece com R$ 20 e vá juntando dinheiro que, ao longo dos anos, você junta cinco milhões. Day trade também é a longo prazo. As que não estão mentindo e realmente conseguem não têm o day trade como única fonte de renda. Elas têm experiência e já passaram por inúmeras fases de mercado e não operam apenas mini-índice ou mini-dólar”, finaliza.
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