Como o salário mínimo impacta a economia ( e o seu bolso)?

Como o salário mínimo foi estabelecido?

Anteriormente à assinatura do decreto por Getúlio Vargas, a formulação do salário mínimo contou com a atuação do sindicato dos economistas de São Paulo.

Gomes explica que havia uma convicção de que o salário deveria contemplar o mínimo necessário para que o trabalhador e sua família pudessem sobreviver. Então, em 1939 foi feita uma pesquisa com duas mil cadernetas, que na época eram as contas com as quais se comprava fiado em mercearias.

“Essa coleta de dados serviu como índice de preços para se chegar ao valor do salário mínimo na época. Quando foi formulado pela primeira vez, o índice avaliava os preços para as classes mais pobres. Hoje ele ainda existe é o IPC-Fipe, mas atualmente é focado nos preços para a classe média.”, completa ele.

Para quanto vai o salário mínimo em 2023?

Trabalhadores e investidores começaram a semana atentos à discussão envolvendo o aumento do salário mínimo para 2023. A medida foi promessa de campanha do Presidente Lula e hoje é esperado que o governo eleve o salário mínimo acima dos R$ 1.320 previstos no orçamento. A próxima discussão entre membros do governo sobre o reajuste do salário deve acontecer no dia 30 de janeiro.

O presidente do Corecon afirma que qualquer aumento no salário mínimo implica num alto contingente de gastos por parte do governo.

“Hoje temos cerca de 13 milhões de aposentados e pensionistas. Um aumento de apenas 10 reais no salário mínimo já demandaria R$ 130 milhões em gastos adicionais. Se pegarmos esse valor e multiplicar por doze meses, então teríamos num ano um gasto público que ultrapassa R$ 1 bilhão”, observa Gomes.

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Por outro lado, o aumento do salário mínimo tem o poder de aquecer a economia.

“Quando os mais ricos recebem uma renda extra, tendem a aplicar ou guardar, o que não necessariamente é um dinheiro que volta para a economia. Já o aumento do salário mínimo, para os mais pobres, representa um aumento de consumo de bens e serviços. Mais consumo gera mais produção, que por sua vez gera mais empregos“, diz Gomes.

O aumento do consumo individual também está ligado à movimentação simultânea de vários setores econômicos.

“Na economia utilizamos o 5 como número de referência. Por exemplo, se alguém gastou dez reais na padaria, na verdade injetou cinquenta na economia, porque o dono do estabelecimento paga seus fornecedores, estes pagam os seus próprios parceiros e assim por diante”, explica Gomes.

Salário mínimo, inflação e investimentos

Pedro Afonso Gomes também observa que nos últimos anos o salário mínimo vem encontrando dificuldades para cumprir sua função básica de assegurar o bem estar de trabalhadores. Isso porque o valor não teve aumento significativo ante a inflação real.

“Ao contrário do IPCA, que é o indicador oficial, a inflação real é baseada na cesta de gastos, naquilo que cada um consome de fato. Essa composição varia entre cada pessoa, considerando diferença de idade ou tipos de gastos, por exemplo. Assim como o IPCA, a inflação real está alta e o salário mínimo não conseguiu acompanhar a escalada de preços”, diz Gomes.

Como explicado acima, o aumento do salário mínimo é capaz de injetar mais dinheiro na economia. Com mais dinheiro circulando e mais pessoas consumindo, é esperado que a inflação aumente.

O aumento da inflação, por sua vez, impacta diretamente na rentabilidade de títulos públicos, já que o IPCA indexa alguns deles. Uma vez que os juros são ajustados para combater a inflação, um quadro de IPCA alto também contribui para o aumento da Selic, a taxa básica de juros, que por sua vez é outro indexador de títulos públicos.

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