Quanto a Selic vai cair? Veja qual a expectativa do mercado
Analistas ouvidos pelo Bora Investir explicam por que acreditam que a queda da Selic será menos ou mais acentuada
Por Guilherme Naldis
O Focus já formou consenso, a curva de juros já precificou e até o Banco Central já deu sinais de que a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deve reduzir a taxa básica de juros do Brasil, a Selic. Mas, se a dúvida da última reunião era se o colegiado afrouxaria ou manteria a taxa referencial, a questão agora é qual o tamanho da queda da Selic que vem por aí.
Segundo Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos, todos os itens que foram colocados na ata do Banco Central como condicionantes para abaixar os juros foram atendidos.
“Já vemos uma queda na inflação, as expectativas estão se acomodando, as reformas começaram e o arcabouço fiscal passou, o que deve dar mais previsibilidade para a trajetória da dívida pública do país. Tanto é que as empresas de avaliação de crédito estão dando notas melhores para o Brasil”, diz.
Ele explica que o país foi um dos primeiros a subir os juros em razão da crise econômica decorrente da pandemia, juntamente com vizinhos como o Chile. Agora, devemos começar os ciclos de cortes em breve, afirma Carvalho.
Ainda assim, várias incertezas políticas e econômicas ainda levantam dúvidas sobre como o Banco Central deve começar o ciclo de relaxamento: de maneira hawkish ou dovish. De um lado, há quem aposte em um corte vigoroso de 0,50% na Selic, que está em 13,75% hoje. Do outro, as expectativas são de que o Banco Central seja mais cauteloso e reduza o juro em 0,25%.
Bora entender os dois lados!
A queda da Selic vem agora mesmo?
A economia é uma ciência humana. Ainda que envolva números e cálculos, o estudo econômico é baseado no comportamento humano e sua relação com os recursos escassos, como dinheiro. Por isso, nunca há certezas na economia. É possível, sim, fazer projeções. Mas previsões certeiras, não.
Assim, é impossível determinar com certeza o que o BC deve fazer no próximo encontro do colegiado de política monetária. O que pode ser feito, entretanto, é recolher os sinais e apontar para o futuro mais provável.
O mercado faz isso dia após dia, e grande parte do trabalho dos economistas é reunir estas evidências para tentar fazer as escolhas de investimento mais certeiras. Assim, grande parte dos agentes econômicos está convencida de que sim, o Banco Central deve cortar os juros na próxima reunião.
Uma pesquisa pré-copom do banco BTG Pactual ouviu 107 agentes do mercado financeiro a respeito do que deve vir por aí na economia. Entre os entrevistados, estão gestores de carteira, traders, economistas e estrategistas. Cerca de 60% dos participantes da pesquisa julga que o ciclo de cortes começará com uma redução de 0,50%, e 39% dos pesquisados acredita que o corte será de 0,25%. Menos de 1% acha que o Copom pode manter ou elevar os juros, e o porcentual também inclui aqueles que não souberam responder a pergunta.
Por que a queda da Selic deve ser de 0,25%?
A turma mais precavida aposta que o Banco Central deva começar a queda do juro de maneira mais tímida, com uma redução de 25 pontos base (bps). Para eles, ainda há algumas incertezas no campo fiscal que não permitem decisões mais arrojadas.
Segundo Mauricio Oreng, superintendente de pesquisa macroeconômica do Santander, o BC deve ser cauteloso no processo de flexibilização que está prestes a se iniciar. “Ainda há incertezas em relação ao processo de consolidação fiscal, o verdadeiro grau de folga na economia e uma série de fatores temporários de desinflação”.
Veja os argumentos:
O Banco Central pensa a longo prazo
Os dois lados admitem a incerteza de sua posição e a existência de espaço para corte de 0,50% e de 0,25%, dado que a inflação tem mostrado dados negativos. Porém, o Banco Central trabalha com expectativas, e ele sabe que juros mais altos hoje significam juros mais baixos no futuro.
O que é a curva de juros e como ela afeta meus investimentos?
“A minha dúvida é se o BC não prefere fazer a queda em 0,25% para manter os juros de longo prazo baixos. Essa é uma estratégia de ter um ciclo mais longo, com quedas menos acentuadas, fazendo com que a taxa de juros futuros caia”, diz Jayme Carvalho, economista e sócio da SuperRico.
O Comitê não é uniforme
O colegiado que decide se a Selic vai pra cima, pra baixo ou fica no mesmo lugar é composto pelos oito diretores do Banco Central. As decisões são tomadas em conjunto, e esse grupo de pessoas vota pelo que acha mais razoável. O problema é que eles não pensam igual, e muitas decisões não são unânimes.
Para Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, a composição do Copom, hoje, é dividida, ainda que a maioria seja mais conservadora. “Um grupo vai votar por um corte de meio, mas a maioria é mais conservadora e vai votar por um corte de 25 bps. A decisão tende a não ser unânime, porque temos notícias boas de deflação e desinflação. Por outro lado, a meta inflacionária para o ano que vem é difícil de atingir”, explica.
A meta de inflação é ambiciosa
A meta de inflação proposta para 2024, de 3%, é bastante audaciosa e encontra algumas dificuldades de se realizar. Por isso, os diretores do Banco Central podem ver nela uma razão para cortar a Selic com menos intensidade, visando garantir o resultado previsto pela meta.
Além disso, alguns grupos do IPCA monitorados pela autoridade monetária ainda estão acima do desejado pelo BC. “Isso pode dificultar um corte maior na semana que vem”, acrescenta Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Por que a queda da Selic deve ser de 0,50%?
Quem defende uma redução mais expressiva da Selic argumenta que o juro já se manteve em patamares elevados por muito tempo e, a rigor, cumpriu seu papel. Por isso, o Banco Central pode ser mais ambicioso ao iniciar o ciclo de afrouxo monetário, dado que há certa segurança de que o trabalho prévio de combate à inflação foi feito.
“É inegável que a inflação tem apresentado um comportamento mais positivo sob a perspectiva da política monetária. Os resultados recentes surpreenderam mesmo a autoridade monetária do país, e a desaceleração econômica atualmente em curso é verificável pelos dados setoriais mais recentemente divulgados”, destaca Matheus Pizzani, economista da CM Capital.
Os pontos são:
As expectativas estão se ancorando
Segundo Pizzani, outro componente fundamental para as decisões do Banco Central são as expectativas dos analistas, coletadas no Brasil através do Boletim Focus e do questionário pré-Copom, ambos respondidos por instituições do setor financeiro.
“Em ambos os casos, tem sido possível observar uma maior convergência das previsões de inflação no curto, médio e longo prazo para o que se propõe dentro do Regime de Metas para Inflação”, explica.
A desinflação se consolidou
Os dados mais recentes de inflação continuaram a mostrar dinâmicas benignas de queda de preços, e contrariam as previsões negativas de rebote inflacionário, com resultados melhores do que o esperado, diz Claudio Ferraz, economista-chefe do BTG Pactual.
“Mesmo as parcelas mais cautelosas do comitê têm de admitir as notícias positivas que vieram desde a última reunião”, afirma Ferraz.
O cenário geral está melhor do que o esperado
A aprovação do arcabouço fiscal, as medidas complementares de recomposição das receitas e o início da tramitação da Reforma Tributária reduziram, e muito, os riscos extremos da economia.
Para Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, os ganhos de credibilidade e consolidação da regra fiscal podem ser incrementados por uma reforma tributária que gere ganhos de produtividade e melhore o crescimento de longo prazo da economia.
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