Investir melhor

Vale a pena guardar dinheiro para a faculdade dos filhos?

Segundo especialistas, os pais devem primeiro investir na conquista da própria liberdade financeira do que em um projeto de vida para os filhos

Ter um filho é uma decisão que vai mudar a sua vida em todos os aspectos. Emocional, corporal, social… E, também, financeiro. 

É necessário preparo para os gastos da vida da criança. Mas, de acordo com Graziele Delgado, professora de finanças e especialista em psicologia econômica, os pais devem priorizar investir para a conquista da liberdade financeira do que investir em um projeto de vida para os filhos.

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Isso porque o mercado financeiro oferece variáveis mais “previsíveis” que as mudanças que possam ocorrer na vida de uma pessoa. Por isso, a especialista desaconselha que pais poupem dinheiro a partir do nascimento do filho pensando em um “projeto de vida” para a criança, especialmente uma faculdade.

“Primeiro: não sabemos como o mercado de trabalho vai estar no futuro. Segundo: não sabemos qual vai ser a escolha que esse jovem vai fazer quando tiver a idade de resgatar o dinheiro. Será que vai ser boa?”, questiona.

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Não há como prever um futuro certo para o bebê

Delgado argumenta que as rápidas mudanças na educação e as novas possibilidades de trabalho impedem que se planeje um futuro certo para um bebê.

“Hoje, existem profissões que não existiam ano passado. E muitas profissões atuais estão para desaparecer em poucos anos. Talvez não existam nem faculdades daqui a 20 anos”, justifica.

Ela também elenca uma alteração de comportamento geracional O hábito dos filhos cuidarem dos pais quando forem idosos tende a desaparecer conforme os avanços da medicina permitam vidas melhores para os pais. Uma velhice independente financeiramente faz mais sentido do que precisar recorrer aos filhos por ajuda, argumenta. 

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Ela exemplifica: “às vezes o pai guarda um dinheirão para investir no filho e acaba que o investimento não dá tantos frutos assim. Resultado: os dois ficam apertados”. Por isso, a professora recomenda que os pais foquem em garantir suas aposentadorias por si, poupando a si mesmos e aos filhos.

Quando uma pessoa não se planejou para ter a sua liberdade financeira no futuro, esta deve ser sua prioridade mais imediata, diz Thiago Godoy, head de educação financeira da XP. “É como aquela história da máscara do avião: primeiro colocamos a máscara de oxigênio em nós mesmo para, depois, salvar os outros”, exemplifica.

Projeção financeira

Se os pais já tiverem uma boa reserva para a aposentadoria, nada impede que optem por guardar dinheiro para gastos relacionados à educação quando seu filho atingir a maioridade. Afinal, é recomendável dividir nossa vida financeira em prazos e objetivos, conjuntos e individuais.

Delgado fez duas simulações de investimentos do quanto é possível economizar para os filhos em 20 anos realizando aportes mensais de R$ 50, R$ 100, R$ 150 e R$ 200. Os valores não consideram a inflação do período. 

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Os cenários comparam o rendimento da poupança com o do Tesouro Selic. Na opção da poupança, o rendimento mensal é de 0,76% ao mês quando a regra estabelece que este seja o valor de rendimentos quando a Selic está acima de 8,5%.

Já o Tesouro Selic renderá 1,07% ao mês, considerando a taxa de juros atual de 13,75% ao ano. O Imposto de Renda para rendimentos de renda fixa é de 15% após 720 dias de aplicação, que durará 20 anos ou 240 meses.

Aqui, a ideia é dar apenas uma referência, pois taxa Selic pode mudar, o que fará o rendimento de ambas as aplicações caírem.

Além disso, como o prazo do investimento é longo, é possível ter uma carteira de investimentos diversificada, inclusive aplicada na renda variável e em ações. Fundos de previdência também podem fazer sentido neste período. É importante que os investimentos mantenham o seu valor ante à inflação em períodos mais longos.

Aportes mensais de R$ 50

Caderneta de poupançaTesouro Selic
Rendimento mensal0,76%1,07%
Aporte mensalR$ 50,00R$ 50,00
Capital investidoR$ 12.000,00R$ 12.000,00
RendimentosR$ 22.165,65R$ 44.027,94
Imposto de RendaR$ 6.604,19
Valor final R$ 34.165,65R$ 49.423,75

Aportes mensais de R$ 100

Caderneta de poupançaTesouro Selic
Rendimento mensal0,76%1,07%
Aporte mensalR$ 100,00R$ 100,00
Capital investidoR$ 24.000,00R$ 24.000,00
RendimentosR$ 44.331,31R$ 88.055,88
Imposto de RendaR$ 13.208,38
Valor final R$ 68.331,31R$ 98.847,50

Aportes mensais de R$ 150

Caderneta de poupançaTesouro Selic
Rendimento mensal0,76%1,07%
Aporte mensalR$ 150,00R$ 150,00
Capital investidoR$ 36.000,00R$ 36.000,00
RendimentosR$ 66.946,96R$ 132.083,82
Imposto de RendaR$19.812,57
Valor final R$ 102.496,96R$ 148.271,25

Aportes mensais de R$ 200

Caderneta de poupançaTesouro Selic
Rendimento mensal0,76%1,07%
Aporte mensalR$ 200,00R$ 200,00
Capital investidoR$ 48.000,00R$ 48.000,00
RendimentosR$ 88.662,61R$ 176.111,76
Imposto de RendaR$ 26.416,76
Valor final R$ 136.662,61R$ 190.494,99

Por isso, o especialista recomenda que o ponto de partida seja a composição de uma reserva de emergência. Em seguida, que se invista em uma aposentadoria – com maiores e menores graus de risco. Ao mesmo tempo, é possível investir em objetivos financeiros paralelos. 

Eles podem ser viagens de curto e médio prazo ou pertences caros e muito desejados. Mas também menciona a necessidade de se preparar para o futuro – próprio e de quem se ama. 

“O mais importante do que isso é ter o hábito de gerar e poupar dinheiro. De fazer investimentos e colocar eles em produtos que vão te atender a prazos diferentes e sonhos diferentes”, aconselha Godoy.