Tesouro direto

Rogério Ceron: “Queremos que o Tesouro Direto seja tão conhecido e usado quanto a poupança”

Novo Secretário do Tesouro Nacional acredita no potencial do Tesouro Direto como principal canal de investimento de forma simples, segura e acessível

Rogério Ceron, secretário do Tesouro Nacional. Foto: Cauê Diniz/B3
"O TD tem o poder de ser uma ferramenta de educação financeira", afirmou o secretário. Foto: Cauê Diniz/B3

O Tesouro Direto é uma plataforma do governo federal onde são negociados os títulos do mesmo. Estes servem como investimentos, mas segundo o novo secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, o TD pode ter um papel ainda mais importante na educação financeira do brasileiro.

Rogério Ceron assumiu, neste 2 de janeiro, o posto de secretário do Tesouro Nacional e tem vasta experiência em Gestão Fiscal, incluindo Tesouraria, Contabilidade Pública e Tributação.

Em entrevista ao B3 Bora Investir, destacou que o Tesouro Direto tem potencial a ser explorado na ajuda da construção e do conhecimento de uma vida financeira saudável para todos os brasileiros. Ele acredita, e espera pôr em prática, um projeto que mostre a simplicidade, segurança e acessibilidade do TD, para democratizar boas opções de investimentos, conquistar os investidores e torná-lo tão conhecido, e usado, como a poupança.

Como funciona o TD:
Basicamente, você vai emprestar dinheiro para o Estado pagar suas contas, e em troca do seu empréstimo, você recebe seu dinheiro com juros, a chamada rentabilidade.

Confira a entrevista completa com o novo secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron:

Visão para o Tesouro Direto

Rogério Ceron: O Tesouro Direto tem ganhado popularidade e um crescimento exponencial de investidores, que são pessoas físicas e principalmente jovens. Ainda temos muito caminho a percorrer para dar mais facilidade aos investimentos e processos, mas há produtos e funcionalidades novas que vão ser feitas para colaborar, para ajudar, e tornar a plataforma cada vez mais popular e mais conhecida. 

A ideia é que o TD possa desempenhar o papel que a poupança desempenhou em muitas décadas no país, de ser muito reconhecido como um instrumento seguro de aplicação. O Tesouro Direto é até mais seguro do que a poupança, e as pessoas em geral, a população brasileira como um todo, não tem esse conhecimento. A ideia é aprofundar isso de todas as maneiras.

Educação financeira e democratização de investimentos

Ceron: O TD tem esse poder de ser uma ferramenta de educação financeira. Geralmente as pessoas com menor renda são as que mais são penalizadas por não ter acesso a isso e não saber optar pelo melhor instrumento financeiro para o seu objetivo. Por isso que nós vamos caminhar com produtos voltados a objetivos, isso é muito interessante porque vai conectando e dando acesso à população de instrumentos financeiros que até então eram limitados a esse público. 

“Se que depender de mim, não tem porque não almejar que o TD seja uma marca tão conhecida quanto a caderneta de poupança foi para as gerações de algumas décadas passadas.”

Por que não almejar esse objetivo e fazer dele a maior plataforma de educação financeira do país e quem sabe do mundo? Realmente, esse é um programa que é voltado para as famílias de menor poder aquisitivo, para que elas compreendam a importância dos investimentos para cumprir seus objetivos de vida. 

Acho que tem um potencial incrível e o Tesouro vem caminhando para isso. É um trabalho de décadas, são 20 anos onde cada um vai colocando seu tijolinho e ele vai ganhando maturidade para se transformar numa grande plataforma.

Simplicidade para atrair mais gente

Ceron: Temos uma agenda muito interessante que vai tornar o TD muito acessível. O grande objetivo é fazer com que as pessoas compreendam que ele é tão seguro quanto. As pessoas compreendem que a poupança é um instrumento de segurança e elas abrem mão da rentabilidade, até com a perda do poder aquisitivo, por conta dessa percepção. Se elas compreenderem que o Tesouro Direto é até mais seguro, simples e acessível, onde é possível investir com apenas R$ 30, isso criará as condições mínimas para que ele se transforme em algo extremamente popular e atinja milhões e milhões de famílias. 

“Esse é o objetivo e acho que se cumprirmos, deixamos um legado incrível para o país em termos de educação financeira, com um impacto em termos geracionais incrível depois.”

Novos produtos para o TD

Ceron: Nós fizemos agora um produto voltado para aposentadoria, mas há intenção para outros objetivos. Um em especial, que nós estamos olhando com muito carinho é a poupança voltada para o ciclo estudantil, que é o famoso baby bond, onde você acumula durante um período para poder custear os estudos em quatro, cinco anos, no tempo de curso universitário. A gente deve lançar um produto específico para este objetivo, explorando esse papel de engajamento onde as famílias, as empresas e colaboradores possam criar aquele processo de formação de uma poupança que vai ajudar a pessoa a ter capacidade financeira para o ciclo estudantil no nível universitário.

Ele não é só para pagar a universidade, é pensado para custear o período universitário que em geral dificulta o trabalho naquele tempo. Ter essa poupança ajuda muito e esse é um produto que pode tornar mais popular o Tesouro Direto. O conceito seria similar ao Renda+, onde você acumula para depois ter a amortização no período dos estudos. Hoje é o lançamento de um produto (Renda+), para um objetivo, mas virão outros. 

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“Queremos transformar o TD em uma grande plataforma de produtos onde as famílias brasileiras, os jovens, consigam utilizar para diferentes objetivos de uma forma segura, fácil e acessível. Sem precisar pagar altas taxas de administração, sem ter uma burocracia gigantesca para poder fazer um investimento e não precisar ter muito capital para começar, onde com R$ 30 ele consegue começar a pensar na sua poupança. Isso faz muita diferença”.

Por esses motivos, estamos menos preocupados com o volume financeiro e mais com o número de investidores nesses produtos. Como são produtos para democratizar os investimentos, queremos alcançar o investidor de baixa renda, que é aquele que queremos mais proteger.

Perspectiva de investimentos ESG para PF

Ceron: Essa preocupação (investimentos ESG para pessoa física pelo Tesouro) pode ser no futuro mais uma vertente, mas hoje nós estamos trabalhando internamente por uma emissão externa (até o final do ano), onde já temos o aval para avançarmos nos estudos. Essa emissão externa tem um papel muito importante de criar uma curva de preços para esse tipo de título no exterior , para títulos brasileiros, porque isso depois fomenta grupos privados internos a acessarem esse mercado, e eles usam a taxa do Tesouro como referência para suas emissões.

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Há vários estudos que mostram que após a emissão Soberana existe um crescimento substancial de emissões privadas daquele país porque se abre o mercado e cria referência para que eles possam captar recursos para esse objetivo, para a pauta do desenvolvimento sustentável, etc. As empresas de grande porte têm uma agenda própria, que já fazem a emissão ESG sem precisar da República, mas as empresas de porte médio, quando o país faz esse movimento, elas se sentem motivadas e abrem espaço no mercado internacional.

Macroeconomia: Juros e Arcabouço fiscal

Ceron: Temos um histórico de patamar de juros muito elevado no Brasil para qualquer padrão, mesmo para países em desenvolvimento. Nós vivemos como os recordistas em taxa de juros real no mundo em qualquer perspectiva, com raríssimas exceções no tempo, isso há décadas e décadas. A história brasileira é assim. 

Precisamos mudar esse esse patamar, criar as condições para que tenhamos taxas de juros mais saudáveis, não só no curto prazo, mas também em horizontes de médio e longo prazo.

+ Selic a 13,75%: quanto renderia R$ 1.000 em Tesouro Direto com essa taxa de juros?

Vamos trabalhar para isso, e isso envolve poupança, envolve responsabilidade fiscal, autoridade monetária, um conjunto de fatores para criar as condições para um arcabouço institucional, que permita ter, com sustentabilidade, taxa de juros mais adequadas.

O intuito é ter disponível até abril o novo arcabouço fiscal para debate no Congresso. Acho que nós vamos ter condições sim de ter esse projeto pronto para ser submetido a discussão nesta data já com alguma discussão prévia, de ouvir alguns atores relevantes.

O FMI (Fundo Monetário Internacional) se colocou à disposição para ajudar e já está em contato com as nossas equipes. O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) sinalizou o interesse de contribuir. Ouvir grandes especialistas de fato sobre a matéria fiscal para poder discutir, colher percepções e aprimorar a proposta.

Quer saber como funciona e como investir no TD e outros produtos de renda fixa? Acesse os conteúdos de finanças pessoais do Hub de Educação Financeira da B3.

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