Ações

Saiba o que são ‘ações memes’ e quais são os riscos

Volatilidade das ações é reflexo da especulação e pode acarretar punições pelos órgãos reguladores

Bolsa de valores
Bolsa de valores

O sobe e desce dos preços das ações pode chamar a atenção. Essa volatilidade muitas vezes acontece porque há diversos analistas do mercado e investidores que avaliam as empresas, fazem projeções sobre seu crescimento e compram ou vendem suas ações com base nessas expectativas. Mas e quando um grupo de investidores se organiza e começa a operar sem olhar para os fundamentos, mas com o objetivo de criar um movimento aparentemente sem motivo e lucrar com ele? É o caso da onda que ficou conhecida como “ações memes”. Esse movimento atrai atenção dos órgãos reguladores do mercado financeiro, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e pode gerar penalidades aos investidores.

Na pandemia, o caso da GameStop, nos EUA, ilustra esse cenário. Um grupo de investidores se reuniu através de um fórum de discussão online – Reddit – para especular a favor das ações da empresa de jogos GameStop, que estava em crise. Acontece que os grandes fundos de Wall Street operavam esperando a queda das ações da companhia. No entanto, os pequenos investidores, organizados online, conseguiram reverter a trajetória de queda e levaram a uma grande valorização das cotações da GameStop. Isso provocou agitação na bolsa americana. Mais recentemente, surgiram outros movimentos similares nos EUA, e o caso das ações memes voltou à mesa de discussões.

Já no mercado financeiro brasileiro, a CVM explica ao Bora Investir que não pode comentar casos específicos – como as ações memes –, mas alerta que acompanha a movimentação no mercado e que pode aplicar sanções sempre que necessário para restabelecer a tranquilidade nos negócios.

Mas quais são os riscos?

Para o educador financeiro do Ágora Investimentos, Eduardo Reis Filho, o principal risco de um investidor entrar em uma onda como as “ações memes” é, justamente, a oscilação inesperada de preço.

O que pode ser feito é avaliar previamente os números da empresa, como receita, despesa, crédito e capacidade de honrar as dívidas.

“Se olharmos de forma fundamentalista, que é uma das análises mais seguras de avaliar a saúde e os números de uma empresa, é possível perceber que algumas dessas ações já não têm  fundamentos sólidos e são meramente especulativas”, afirma.

Memes

Mas não é isso o que o grupo de investidores comprometidos a entrar na onda de memes pretende olhar. O caso da GameStop exemplifica isso de forma clara. A empresa já não tinha mais capacidade de investimentos e estava em recuperação judicial, mas, mesmo assim, suas ações foram alvo de uma enorme onda de compra.

“Como o próprio nome a classifica: é um meme. Uma brincadeira em que algumas pessoas apostam valores em busca de algum retorno”, diz.

Investidores torcedores

Segundo o educador financeiro Ricardo Natali, esse movimento tende a passar uma ideia errada de como se deve investir. Para ele, as “ações memes” são como torcidas.

“Eu vejo isso no Brasil. Alguns investidores são mais torcedores do que investidores. Ou seja, compram um ativo qualquer e ficam torcendo para que se valorize e ao ponto de se associar com outros investidores. Você não escolhe ativos de forma saudável e acaba sendo um grande torcedor daquele ativo. Eu acho que é um jeito errado de se pensar e não traz futuro a longo prazo”, afirma.

Preços sobem por manipulação

O que explica, então, essa atração pelos preços? É justamente a organização entre o grupo de investidores que compram determinado ativo com a intenção de vê-lo sendo valorizado.

“Eu acho perigoso. É um jeito errado do investidor pensar. Porque afasta ele do jeito certo de fazer um investimento, que é justamente se tornar sócio do capital da empresa. Então, você precisa escolher empresas que tenham fundamentos, que vão trazer receitas no futuro”, diz.

Movimento imediato

Natali ainda destaca que as “ações memes”, por mais chamativas que sejam, são um movimento mais imediatista e que não deve gerar receitas a longo prazo. “Quando a gente fala desse movimento, é algo mais imediatista ao ponto de um grupo de pessoas querer manipular o preço de uma empresa simplesmente pela lei da oferta e da demanda, sem nenhum tipo de fundamento por trás. Quanto mais compram determinada ação, ela sobe. Mas se não tiver fundamento, ela tende a voltar ao preço. É uma manipulação do valor justo da ação e afasta o investidor de um caminho saudável”.

Pode haver punições?

A CVM alerta que acompanha as movimentações do mercado financeiro e, caso necessário, aplica as medidas cabíveis. 

Segundo o educador financeiro, o mercado brasileiro é altamente regulado e supervisionado para evitar qualquer descumprimento das regras que mantêm o funcionamento dos negócios.

“Esse tipo de brincadeira pode gerar sanções para quem estimula ou ‘recomenda’ a compra de algum papel sem ter a competência e certificações necessárias e aprovadas pelos reguladores”.

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