Entenda por que o café ficou mais caro – e saiba como investir na commodity

O café não está mais caro apenas nos supermercados. A alta do preço da bebida típica do brasileiro também está representada no valor negociado em bolsa. Com aumentos significativos nos últimos meses, o preço atingiu níveis históricos em fevereiro, quando a saca de 60 kg de café arábica chegou a ser cotada a R$ 2.769, o maior valor já registrado, fechando o mês em R$ 2.628. 

O que fez o preço do café subir 

A pergunta que consumidores e investidores se fazem é: O que tem feito o preço do café subir tanto? Segundo Marcos Piellusch, professor da FIA Business School, diversos fatores contribuíram para a escalada dos preços.  

Ao contrário do que muitos pensam, a valorização do dólar não é a principal causa da escalada de preços do café. Entenda a seguir:  

Condições climáticas adversas 

Por se tratar de uma commodity agrícola, as condições climáticas influenciam diretamente a produção de café. E em 2024, dois dos principais produtores de café do mundo, o Brasil e o Vietnã, tiveram problemas com secas, que afetaram as safras. 

“O Brasil, maior produtor mundial de café, enfrentou uma das piores secas já registradas, além de ondas de calor, que afetaram significativamente a produção”, destacou o professor. 

Choque de oferta e demanda 

Como a produção foi afetada, houve um choque de oferta, que levou à queda nos estoques. Ao mesmo tempo, houve um aumento na procura por café no Brasil e no mundo. 

Segundo a Organização Internacional do Café (ICO, na sigla em inglês), até setembro de 2024, o consumo do produto no mundo havia subido 2,25% em 12 meses.  

“O consumo de café tem crescido mundialmente, especialmente em países como a China, onde o consumo dobrou na última década”, ressalta Piellusch, que ainda aponta que, assim, “devido à alta demanda e à menor oferta, os estoques de café no Brasil estão em níveis historicamente baixos, contribuindo para a pressão nos preços”. 

O que mais influencia o preço do café 

Outros fatores que influenciam a formação de preço do café são: 

• Câmbio: Um real mais desvalorizado frente ao dólar tende a favorecer as exportações brasileiras de café, diminuindo a oferta interna e elevando os preços.   

• Custos de produção: Aumento nos preços de insumos agrícolas e custos logísticos elevam o custo final do produto.   

• Especulação no mercado futuro: Investidores que negociam contratos futuros de café podem influenciar as cotações de curto prazo, dependendo das expectativas de safra e demanda.   

Zerar o imposto de importação pode diminuir o preço do café?  

Na última semana, o Governo Federal anunciou que irá zerar o imposto sobre importação de vários alimentos, na tentativa de controlar a inflação sob a classe. O café entrou no pacote e terá alíquota zerada (antes de 9%). 

Contudo, o professor da FIA Business School afirma que, no contexto brasileiro, zerar o imposto de importação deve ter impacto limitado no preço do produto. “O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, e a maior parte do consumo interno é atendida pela produção nacional. Importações de café verde são pouco representativas no mercado brasileiro”.  

Portanto, de acordo com ele a medida não deve afetar significativamente os preços ao consumidor. “No entanto, se a medida incluir café processado (como grãos especiais de outras origens), pode haver uma leve pressão para a redução de preços em nichos específicos, como o mercado premium”. 

Café como investimento 

O café é uma commodity negociada em bolsas de valores internacionais, como a Intercontinental Exchange (ICE) e a B3 no Brasil. Investir em café permite diversificação de portfólio e potencial de retorno, especialmente em períodos de alta demanda e oferta limitada.  

Além disso, Marcos Piellusch diz que o grão pode servir como proteção contra a inflação e a volatilidade dos mercados, já que seu preço pode subir em períodos de instabilidade econômica. 

Como investir em café?

Existem várias formas de investir em café no mercado brasileiro, como:   

Contratos Futuros

Investidores podem negociar contratos futuros de café arábica na B3. Cada contrato representa 100 sacas de 60 kg. O código do contrato futuro do ativo na B3 é ICF.  

ETFs e Fundos de Commodities 

Outra opção é investir em ETFs (fundos de índices) que investem em café, ou fundos de investimento atrelados a commodities e, por consequência, ao grão.   

Commodities via opções 

Para investidores avançados, há também a possibilidade de operar opções sobre contratos futuros de café, alavancando investimentos e protegendo-se contra oscilações bruscas no preço da commodity.  

“Independentemente da estratégia escolhida, é fundamental que o investidor compreenda os riscos associados ao mercado de commodities e busque orientação profissional antes de investir”, ressalta Piellusch.

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