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Juros altos: renda fixa é sempre a melhor escolha?

Títulos indexados pela Selic continuam atrativos, mas é preciso diversificar portfólio

Um princípio bem conhecido do planejamento financeiro diz que um cenário de juros altos favorece investimentos em títulos de renda fixa. Com isso, espera-se uma fuga de investidores do mercado de renda variável.

Entretanto, uma pesquisa recente realizada pela B3 mostrou que o número de pessoas físicas que investem em renda variável cresceu no terceiro trimestre de 2022, ano em que os juros permaneceram altos. Na comparação com o mesmo período de 2021, o aumento foi de 38%.

Segundo a mesma pesquisa, entre o terceiro trimestre de 2021 e o de 2022 houve queda no volume médio diário (compra e venda) de ativos de renda variável. Mesmo assim, o montante segue maior que o observado há dez anos, quando a taxa básica de juros se encontrava num patamar mais baixo que a atual – 7,25% em dezembro de 2012 contra os atuais 13,65%.

Para entender por que o investidor brasileiro segue atraído pelo mercado de renda variável mesmo com a Selic alta, o Bora Investir conversou com Ricardo Lopes, planejador financeiro CFP® pela Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro).

Como investir com juros altos?

Segundo Ricardo Lopes, a percepção de que juros altos favorecem a renda fixa é válida. “O investidor tende a olhar a rentabilidade no curto prazo. Então, investimentos de renda fixa indexados por uma taxa alta de juros são atrativos”, avalia Lopes.

Por outro lado, Lopes avalia que hoje o Brasil vive um momento de descoberta do mercado financeiro. “Esse processo ainda está no começo, mas já é possível perceber que há uma democratização dos investimentos no país, como mostra o aumento de CPFs cadastrados na bolsa. Isso também ocasiona uma diversificação dos investimentos.”

Os números da B3 corroboram a percepção de Lopes. Enquanto hoje 65% dos investidores pessoa física investem apenas em renda fixa, a procura por outros produtos cresceu nos últimos anos. O número de investidores pessoa física de Fundos Imobiliários (FIIs) totalizou 1,9 milhão no terceiro trimestre de 2022. Em 2018, esse número era de 200 mil.

Além dos FIIs, outro produto de renda variável que teve aumento de procura foi o Brazilian Depositary Receipt (BDR). O terceiro trimestre de 2022 totalizou 1,5 milhão de investidores pessoa física de BDR. No mesmo período de 2021, o total era cerca de 300 mil.

O processo de descoberta do mercado financeiro não foi por acaso. Segundo Lopes, “temos um grande número de profissionais capacitados a oferecer gestão patrimonial a seus clientes. Hoje, são mais de dez mil planejadores certificados e mais de setecentos escritórios de assessoria financeira. Se no passado esse serviço ficava concentrado nos grandes bancos e em gerentes que atendiam centenas de clientes, hoje é possível atendimentos mais personalizados.”

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Além disso, a oferta passou a ser mais abrangente. “Hoje o investidor pode escolher ETFs e BDRs, produtos oferecidos pela B3 atualmente que não existiam há um tempo”, considera Lopes.

Como escolher entre renda fixa e variável?

De acordo com Lopes, a construção de um portfólio se baseia em diferentes classes de ativos. Isso quer dizer que é preciso existir uma alocação diversificada, em que o mesmo investidor aplique tanto em renda fixa quanto variável.

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“O balanceamento é feito de maneira prática, pensando se a melhor estratégia é ter maior parcela de renda variável ou fixa. Para essa decisão é muito importante contar com aconselhamento profissional”, afirma Lopes.

Quando a decisão é feita num cenário de juros alto, então é preciso ainda mais cuidado.

“O investidor deve sempre estar posicionado. Isso que dizer tanto traçar objetivos de curto, médio e longo prazo quanto saber ler a situação da economia. Se hoje a inflação está em 6%, logo é preciso que o portfólio de investimentos seja montado para manter o poder de compra do investidor nessa mesma margem de 6%. Além disso, o atual quadro de incertezas políticas deve manter a inflação e o juros altos, o que deve ser levado em conta pelo investidor e planejadores”, avalia Lopes.

Para mais conteúdo sobre investimentos, confira o HUB de Educação Financeira da B3.