Como o capital estrangeiro pode afetar o mercado do Brasil?
Investidores estrangeiros se comportam como um só bloco e influenciam comportamento de investidores nacionais
Os eventos que aconteceram em Brasília no último domingo acenderam o alerta para a fuga de capital estrangeiro do Brasil. O temor é baseado num possível aumento do risco-país, um indicador utilizado por investidores quando planejam aplicar seus recursos fora de seus países de origem.
De modo geral, o risco-país se eleva quando há maiores chances de calote a investidores, mas instabilidades políticas, econômicas e até mesmo desastres naturais também entram na conta como fatores que podem limitar o lucro de empresas e distribuição de dividendos a acionistas. O risco-país é calculado por agências de rating, também responsáveis pela avaliação de empresas.
No Brasil, assim como em outros mercados emergentes, a presença de investidores estrangeiros é marcante. Um levantamento divulgado pela TradeMap mostrou que o fluxo de capital estrangeiro bateu recorde no ano passado, somando R$ 119,8 bilhões. O volume representa alta de 188% em comparação com a entrada líquida de R$ 41,5 bilhões em 2021. Hoje, estima-se que o investidor estrangeiro represente cerca de 50% da participação na bolsa brasileira.
Os investidores estrangeiros deixarão o Brasil?
As incertezas sobre o futuro econômico e político do Brasil aumentaram desde o último domingo. Mesmo assim, o primeiro pregão após os ataques em Brasília fechou no azul. Entre outros fatores, a resposta rápida do governo brasileiro ajudou a aliviar as pressões.
Para Mauro Rochlin, mestre em economia e professor da Fundação Getulio Vargas, o atual momento político ainda está acontecendo e desdobramentos na economia devem ser esperados. Entre as consequências, está o comportamento de investidores estrangeiros.
“Os investidores estrangeiros formam um bloco homogêneo e que responde à mesma avaliação de risco. Se adotam determinada posição, podem provocar um efeito manada entre os investidores brasileiros. O quadro também deve considerar um possível aumento do dólar frente às atuais conjunturas políticas. Se não fuga de capital estrangeiro, devemos esperar pelo menos uma maior volatilidade no curto prazo”, avalia Rochlin.
Já Pedro Afonso Gomes, presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), enxerga traços mais otimistas.
“As incertezas políticas foram amenizadas, pois os três poderes foram atingidos e todos deram respostas imediatas. Também chama a atenção a quantidade de entidades civis e empresariais que emitiram notas de repúdio aos ataques. Por isso, não acredito que o Brasil tenha se prejudicado com os eventos do último final de semana”, considera Gomes.
Sobre a presença de investidores estrangeiros no Brasil, Gomes explica que a eles não seria interessante deixar o Brasil neste momento.
“Há o tipo de capital estrangeiro que é fixo, investido em empresas, que compra ações de modo definitivo. A análise desse tipo de investidor é a perspectiva econômica, que parece positiva. Por exemplo, o novo governo já expressou a vontade de promover uma maior industrialização, o que também melhoraria os níveis de emprego e o desempenho de outros setores da economia. Para quem investe de modo fixo, o momento atual é muito bom”, considera Gomes.
Para o acionista comum, a posição é parecida. Gomes explica que “quem traz dinheiro para a bolsa também deve pensar no longo prazo, uma vez que a entrada e saída de capitais no Brasil é onerosa e provoca custos adicionais.”
Ataques em Brasília e invasão ao Capitólio
Os ataques em Brasília também chamaram a atenção pelas semelhanças a invasão ao Capitólio, ocorrida em Washington, EUA, há dois anos. Embora parecidas como eventos políticos, as situações econômicas do Brasil e dos EUA são diferentes.
“Hoje, o mais presente no cenário americano é a questão dos juros. Lá temos uma taxa que foi de 0 a 4% e alertou o mundo sobre o risco de um recessão global. Além disso, há hoje um debate sobre se os juros devem ter novas altas nos EUA para obter o efeito desejado de controlar a inflação ou se já chegaram a um limite. O juros nos EUA e também o inflação na Europa provocada pela guerra somam ao cenário de incertezas no mercado externo,” considera Rochlin.
Quer saber mais sobre macroeconomia? Confira os vídeos e cursos gratuitos do Hub de Educação Financeira da B3.