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Quer menos volatilidade na bolsa? Prefira ações que paguem bons dividendos, diz Bea Aguillar

Ao Bora Investir, analista e criadora do canal Papo de Bolsa explica como colocar o pé na renda variável e o que quem deseja montar uma carteira que paga bons dividendos deve considerar

Analista de investimentos e criadora do canal Papo de Bolsa, que tem 370 mil inscritos, Bea Aguillar é conhecida por aplicar todo o seu dinheiro em ações e outros ativos de renda variável. Mas nem sempre foi assim.

Aguillar aponta que começou a investir na renda variável em 2011 e foi apenas em 2018 que encerrou o processo de migrar todo o valor de suas aplicações para essa modalidade de investimentos.

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E engana-se quem pensa que essa migração ocorreu em épocas de juros baixos ou foi interrompida em momentos de juros altos. “Em períodos de alta da Selic a bolsa gera oportunidades de compra. É natural que todo ativo descontado tenha um risco embutido, mas é melhor tomar esse risco quando o papel está barato do que quando está caro”.

Ao Bora Investir, a analista, que trabalhou durante oito anos em bancos, aponta quais os principais erros de investidores ao aplicar dinheiro em ações, como colocar o pé na renda variável e o que quem deseja montar uma carteira de ações que pagam bons dividendos deve considerar. Acompanhe abaixo a entrevista:

Bora Investir – As ações vêm enfrentando um cenário de muita volatilidade. Qual a sua recomendação para o investidor de renda variável agora?

A minha dica é sempre respeitar o seu perfil de risco. Se esse perfil for moderado, e você definiu que terá de 30% da carteira em renda variável, deve respeitar esses porcentuais de alocação que definiu, independentemente de mudanças na taxa básica de juros, que pode favorecer esses ativos.

Ou seja, você não pode migrar tudo para a renda fixa se os juros subiu, ou tudo para a bolsa se cair. Além disso, muita gente verifica que as ações estão baratas e resolve dobrar o porcentual da carteira alocado na renda variável, mas isso fere o seu perfil de risco. Provavelmente, se o mercado demorar para se recuperar, o investidor não terá fôlego para esperar.

Contudo, respeitar os porcentuais de alocação não significa comprar os papéis e esquecê-los, e muito menos deixar de aproveitar oportunidades.

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Quem definiu que terá 30% de seus recursos aplicados na renda variável provavelmente terá de aplicar mais recursos para manter a representatividade dessa modalidade de investimento na carteira agora. Isso porque quando a bolsa desvaloriza a fatia desses investimentos provavelmente irá cair proporcionalmente por conta da queda no preço das ações do portfólio ou aumento da rentabilidade da porção de renda fixa da carteira.

A economia é feita de ciclos. É provável que estamos diante de um ciclo de recessão, mas podemos aproveitar este momento para acumular ativos e, posteriormente, ter maior rentabilidade no ciclo positivo. Especialmente o investidor com visão de longo prazo irá ver muito sobe e desce do mercado, mas se respeitou seu perfil de risco vai conseguir surfar bem estes momentos.

Ou seja, o investidor não deve ficar tentando acertar topos e fundos do mercado. A partir do momento em que define a fatia de ações na sua carteira, deve ter esse porcentual como norte e realizar aportes constantes para equilibrá-lo.

Bora Investir – É possível começar a aplicar de uma forma mais segura em ações, mesmo em um cenário desafiador?

Sim. O investidor pode investir na renda variável não necessariamente tomando menos risco, mas minimizando a volatilidade, o que é muito importante, e até ideal, para quem é iniciante. Imagine começar a aplicar dinheiro na bolsa e ver o valor da sua carteira cair 10%: não há como negar que isso pode despertar muita emoção.

A maneira mais simples e inteligente de fugir da volatilidade é apostar na estratégia de dividendos, cujo foco é gerar renda ao longo dos anos. É diferente da estratégia de quem busca papéis que possam registrar grandes valorizações e não liga para a volatilidade.

Empresas que pagam bons dividendos costumam ser mais maduras e ter negócios que se provaram com o tempo. Elas pertencem a setores econômicos mais perenes, que geram uma volatilidade menor. São bancos e empresas do setor de energia, saneamento básico e telefonia. Eles vendem serviços que não pretendemos parar de usar, pois são necessidades básicas.

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Mas quem for ganhando experiência não precisa abandonar a estratégia de dividendos depois. Há quem siga fielmente essa estratégia por muitos anos. Afinal, não é porque uma empresa distribui um bom montante de dividendos que não pode crescer.

Outra opção é investir em ETFs, que são interessantes para o investidor que não tem tempo para estudar ações. Eles permitem replicar índices acionários, como o S&P 500, que reúne as 500 maiores empresas americanas. Desde 2007 a rentabilidade média do índice fica em 18% ao ano, o que é bem interessante.

Acredito que a diversificação deve ser a base para todos os investidores. Há uma fase célebre do megainvestidor Warren Buffett de que a diversificação é para quem geralmente não sabe o que está fazendo. Mas a maioria dos investidores não tem mesmo certeza: eles têm profissões e não têm tempo de se dedicar como os profissionais especializados. O Buffett estuda 5 horas por dia sobre as empresas na qual investe, e mesmo assim diversifica bastante.

Bora Investir – O que você diria para o iniciante que quer gerar uma renda com dividendos, mas não sabe bem como começar? Sabemos que políticas de dividendos podem mudar, vide o que pode acontecer agora com a Petrobras.

A Petrobras pagou um dividend yield de 64% em 2022 e 68% em 2021, considerando os últimos 12 meses. É um valor muito fora da curva, não recorrente e não sustentável. Se olharmos a média de dividend yield da companhia ela fica em 18%, mas puxada pelos últimos três anos. Se retirarmos esse período da conta, o porcentual cai drasticamente. Após a divulgação da nova política de preços para os combustíveis, a expectativa é que os dividendos distribuídos pela empresa caiam para abaixo de 10%.

Por isso, quem busca montar uma carteira de ações que paguem bons dividendos devem preferir empresas que não são cíclicas e expostas à política, como a Petrobras. Mas existem estatais que apesar de estarem expostas à política não sofrem tantas oscilações. Um exemplo é o Banco do Brasil, que tem processos definidos e que não estão sujeitos a alterações como no caso da petroleira.

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Por isso costumo sempre fazer um alerta quando uma empresa distribui um volume grande de dividendos, acima de 15%: busque saber o que está acontecendo com essa empresa.

Nos últimos anos a Petrobras vendeu diversos ativos e, com mais dinheiro em caixa, resolveu distribuí-lo aos acionistas. Além disso, a alta do petróleo favoreceu o seu lucro. Mas agora ela tem menos ativos, menos dinheiro entrando no caixa e anunciou uma grande mudança em sua política de preços, que não irá seguir mais o barril lá fora. Ou seja, a distribuição de dividendos não deve se repetir.

É o mesmo caso da Vale, que costuma registrar dividend yield entre 6% a 8%:: é uma empresa cíclica, que depende do preço do minério ferro. Se a China crescer, ela lucra mais. Se entrar em recessão, lucra menos. Ou seja, é dependente de outras economias e, consequentemente, mais volátil. Quem investe nela precisa saber a hora de entrar e sair por conta desses ciclos. Para quem quiser tranquilidade, existem outras opções.

Bora Investir – Teremos a tributação do investimento no exterior, e podemos ter uma tributação do dividendos. Caso isso aconteça, o que muda na estratégia? Ela vai continuar a ser válida?

A tributação de dividendos deve acontecer caso a reforma tributária seja aprovada. Mas nos Estados Unidos os proventos já são tributados em 30%, e nem por isso invalida a estratégia.

Caso o país passe a tributar dividendos, o mercado deve seguir o que acontece lá fora: mais empresas devem recomprar ações. Ao tirarem ações de circulação, quando distribuírem dividendos as companhias terão de distribuí-lo entre um menor número de ações, o que poderá compensar em parte a tributação.

Bora Investir – Quais os principais erros cometidos por investidores quando aplicam em ações?

Não diversificar suficientemente a carteira e não ter uma reserva de emergência. Se acontecer algum imprevisto, o investidor terá de resgatar suas ações, o que pode dar um prejuízo danado.

Quem investe em renda variável também deve buscar sempre aprender mais sobre o mercado. O investimento em bolsa não perdoa quem é preguiçoso, só copia o que os outros fazem e não entende o que está fazendo.

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