Selic em 13,75%: quais as expectativas para a taxa básica de juros em 2023?
Analistas esperam redução nos juros só no 2º semestre. Cenários de incertezas fiscais no Brasil e de inflação global elevada impactam na expectativa da Selic em 2023.
Para entender como a taxa básica de juros chegou a 13,75% em 2022 e para onde a Selic pode chegar em 2023, precisamos voltar no tempo e contextualizar essa escalada que começou em 2021. A sequência de avanços teve início após a pandemia alavancar a inflação – diante da maior demanda com os auxílios emergenciais, os choques de oferta global com a falta de componentes e os choques climáticos que levaram a oferta de alimentos para baixo e os preços da energia elétrica para cima.
Em março de 2021, o Banco Central do Brasil (BC) iniciou o aperto monetário, ou seja, o processo de aumento dos juros. De lá para cá a Selic saiu de 2% ao ano – valor mais baixo da história – para 13,75% ao ano – maior patamar em seis anos.
Em 2022, a inflação no país começou a desacelerar em grande parte pelo efeito da política monetária. A limitação pelo governo federal da cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre os combustíveis e energia elétrica também ajudou a conter o ritmo de alta. No entanto, a guerra na Ucrânia impactou o Brasil e o mundo com o avanço no preço das commodities – como petróleo, trigo, e milho – e a alta do dólar. De um lado temos a Rússia um dos maiores produtores de petróleo, gás natural e fertilizantes. Do outro a Ucrânia importante produtor e exportador global de trigo.
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Cenário econômico do Brasil
O economista-chefe do banco Master, Paulo Gala, explica que com um cenário de inflação global alta e incertezas a respeito da condução da política fiscal pelo novo governo, a perspectiva para 2023 é de que os juros não caiam tão cedo no Brasil.
“Os cortes só devem acontecer a partir do segundo semestre de 2023 – com a Selic terminando o ano em 11,75%. Esses cortes estão condicionados a uma nova regra fiscal adequada para o Brasil e a queda da inflação que dependerá muito do preço do petróleo e dos alimentos. Em relação ao acréscimo de despesas temos a PEC da Transição em torno de R$150 bilhões”, explica.
A nova regra fiscal citada pelo economista é a que vai substituir o atual modelo do teto de gastos – que impede que os gastos federais cresçam mais que a inflação. Segundo texto aprovado pelos parlamentares, o governo eleito tem até agosto de 2023 para encaminhar ao Congresso Nacional uma nova âncora fiscal. O limite foi criado em 2016 na gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB).
Já a Pec da Transição dá margem no orçamento de 2023 para que o novo governo consiga pagar a partir de janeiro a parcela de R$ 600 mensais do Bolsa Família, mais R$ 150 por criança de até seis anos. O impacto da proposta é de R$ 168 bilhões por ano, sendo R$ 145 bilhões para pagar o Bolsa Família fora do teto de gastos; e mais um valor limite de R$ 23 bilhões para investimentos, resultado de excesso de arrecadação, que também seguirá fora do teto.
Cenário econômico internacional
O Federal Reserve (Fed) – banco central dos Estados Unidos – voltou a subir os juros na sua última reunião de 2022 que aconteceu em dezembro. No entanto, houve uma perda de ritmo nesse avanço, como esperado pelo mercado. Essa decisão impacta a nossa política monetária.
A escalada da taxa impacta os ativos brasileiros que ficam menos atraentes para os investidores estrangeiros – que passam a aplicar em papéis do Tesouro americano de baixíssimo risco. O maior volume de investimento por lá valoriza o dólar em relação a outras moedas, especialmente a de países emergentes. Com menos investimentos no Brasil, entram menos dólares na nossa economia e a moeda americana se valoriza. O dólar mais alto encarece produtos importados, commodities e equipamentos de alta tecnologia – o que pressiona a inflação.
O exemplo mais clássico dessa combinação de dólar e inflação em patamares elevados são os preços dos combustíveis. A política da Petrobras é atrelada à moeda americana. Quando o dólar sobe, o valor da comoditie se valoriza e os valores dos derivados de petróleo – como a gasolina e o diesel – sobem.
“Uma interrupção do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos pode ajudar bastante o Brasil. Se a taxa parar em menos de 5% já no início do ano, podemos ver quedas mais fortes nas taxas brasileiras e apreciação do Real. Se os juros forem acima de 5%, a situação fica mais complicada no mundo emergente e no Brasil com taxas de juros longas mais pressionadas”, explica Paulo Gala.
Os Estados Unidos também começam a se preparar para uma recessão econômica em 2023 – reflexo do aumento dos juros e de outras variáveis internacionais como a desaceleração na Europa e na China. Essas questões também impactam o Brasil – já que esses países são importantes parceiros comerciais. Os chineses, por exemplo, são os maiores. Importante lembrar que o país asiático começou recentemente a derrubar as fortes restrições da política de ‘Covid-Zero’ – o que pode ajudar o comércio mundial.
Para o economista-chefe do banco Master, a inflação deve ceder com a normalização das cadeias de comércio mundial.
“A inflação deve ceder para menos de 5% no ano que vem com queda de preços do petróleo e normalização das cadeias globais de comércio. O preço dos alimentos também está cedendo no mundo e isso deve contribuir para essa queda”, afirma.
Crédito e Inadimplência
O aumento dos juros por mais tempo em 2023 também deve impactar as concessões de crédito, uma vez que as taxas reais mais altas do mundo – que são as brasileiras – inibem os investimentos em produção e impactam o consumo. A desaceleração da economia, que se iniciou no terceiro trimestre de 2022, se soma a essa política monetária mais restritiva e traz consequências para a economia.
Um outro ponto destacado pelos economistas, como efeito negativo dos juros altos na economia real, é a inadimplência – que já está em patamar recorde. Segundo os últimos dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) o número de pessoas que atrasaram o pagamento de contas de consumo ou de dívidas atingiu 30% do total de famílias no país. É o maior valor da série histórica que começou em 2010.
Nos 12 meses até setembro, o indicador de dívidas atrasadas cresceu 4,5%, a maior taxa anual desde março de 2016. Segundo Paulo Gala, a inadimplência deve piorar ainda mais em 2023.
“O crédito deve ter expansão menor do que em 2021 e 2022 e a inadimplência deve piorar. A construção civil, por exemplo, cresceu em 2022 cerca de 7% e em 2023 só deve crescer 2,5% graças a forte alta do custo do crédito imobiliário”, completa.
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