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Times de futebol em bolsa: como é o setor e perspectivas para o Brasil?

Cenário de negócios no futebol brasileiro vem evoluindo e atraindo investidores pelo mundo

Investimentos futebol. Foto: Adobe Stock
A evolução do mercado do futebol no Brasil traz um novo cenário para os negócios, e que muda o ecossistema do setor. Foto: Adobe Stock

Nos últimos anos, uma área da cultura brasileira ganhou ares de setor de investimento e vem chamando a atenção de investidores de dentro e de fora do país, mas a presença dos times de futebol em bolsa já é uma realidade? Sabemos que o futebol tem ganhado as páginas de negócios com os avanços do meio em buscar alternativas para crescer.

Em 2021, a aprovação da lei da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) possibilitou que os clubes brasileiros pudessem se reorganizar de forma com que nascessem os Clubes-Empresas.

Prática essa que já é comum no exterior, – onde existem até clubes listados em bolsa de valores – e que já foi aderida por grandes clubes nacionais, como Cruzeiro, Botafogo, Vasco e Bahia.

Times de futebol em bolsa no cenário brasileiro

O advogado afirma que o cenário no Brasil está sendo impulsionado tanto pela lei da SAF, quanto pela criação de uma liga de clubes, projetos que atraem investimentos, aliado à força do futebol no país. “O Brasil é um celeiro de atletas, de potenciais ativos para esses clubes, e isso atrai a curiosidade dos investidores pelo mundo atrás desses veículos de negócio”.

“O Brasil é hoje, sem dúvida nenhuma, um bom atrativo. Tem muita curiosidade dos investidores pelo mundo que investem em veículos da área do esporte, de entretenimento, para entender esse cenário, que hoje o Brasil apresenta”, afirma Marcos Motta, sócio-fundador da Bichara e Motta Advogados e especialista em direito esportivo.

Para Gustavo Blasco, CEO da GCB e fundador da GCB Sports e Lucas Constantino, Head of Research GCB Capital, o potencial vem por ser um setor que movimenta muito dinheiro e tem consumidores absolutamente fiéis. “Sempre houve muito interesse dos investidores — interesse esse, entretanto, que não encontrava um ambiente jurídico amigável. De modo que até então os investimentos eram feitos de forma pontual, por mecenas ou por iniciativas mais profissionais que logo eram descontinuadas”.

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Ainda segundo os especialistas da GCB, no momento, essa é uma realidade para os grandes clubes, que tem um número significativo de torcedores. Onde, para os clubes pequenos, em um primeiro momento, não muda muita coisa. Mas ao longo do tempo, empreendedores com visão de longo prazo podem investir em clubes menores com planos mais ousados e arriscados de expansão.

A evolução do mercado do futebol no Brasil traz um novo cenário para os negócios, e que muda o ecossistema do setor. Motta acredita que nos próximos dois ou três anos, pelo menos metade dos clubes brasileiros já terão participação de algum tipo de investimento externo em suas estruturas.

“Passa-se a ter novos players no sentido de negociações, das práticas da governança, na integridade esportiva, você pluga vários pilares nesses clubes, que são importantes para a gestão de um bom negócio”.

Futebol como investimento para os torcedores?

Há no exterior, principalmente na Europa, clubes que são listados em bolsa, como Manchester United, da Inglaterra, que é listado na Bolsa de Nova York, e como a Juventus da Itália, listada na bolsa do seu país. Mas será que essa é uma realidade que pode acontecer no Brasil?

Marcos Motta não vê como impossível de acontecer. O advogado acredita que já existem clubes no país que estão bem encaminhados nessa direção. Porém, ele ressalta que esse é um caminho longo e que exige muito das empresas.

“Claro que quando se fala de clubes listados sobe-se bastante a barra no sentido da governança corporativa, na integridade. Ou seja, não é um processo fácil, como não é um processo fácil de abertura de capital para qualquer empresa,agora imagina isso num clube, que tem décadas, às vezes século, de gestão de alguma forma amadora. É uma transição muito radical, não é qualquer clube que estaria preparado”, afirma.

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O especialista em direito esportivo ainda avalia que o caminho natural de uma empresa quando chega em certo ponto de competitividade é buscar novos meios de investimentos, seja por meio de vendas, compras, fusões ou abrindo seu capital.

“O mercado sendo competitivo, como está se desenhando no Brasil, com esses capitais vindo dos investimentos, dos fundos, eu não tenho a menor dúvida que isso será um caminho natural no mercado brasileiro”.

Blasco e Constantino apostam que até o final dessa década haverá times brasileiros com capital aberto, listados na B3 ou, até mesmo, tendo suas ações tokenizadas em exchanges de criptoativos, “já levando em conta nessa previsão o avanço regulatório sobre o tema”.

Como funciona um time de futebol listado em bolsa

Como citado, para um time de futebol ser listado na bolsa de valores, ele precisa seguir todo o caminho de qualquer outra empresa que deseja abrir seu capital e fazer um IPO. O clube deve seguir todos os parâmetros estabelecidos pela bolsa que deseja fazer parte.

“Quando se trata de clube-empresa, há um maior nível de seriedade e profissionalismo de gestão comparado a um clube “tradicional”, principalmente no que tange aspectos financeiros.

No Brasil, por exemplo, muitas equipes ainda sofrem com problemas de gestões passadas irresponsáveis e dívidas exorbitantes, enquanto aquelas mais saudáveis financeiramente conseguem converter organização em bons resultados dentro de campo”, afirmam Gustavo Blasco e Lucas Constantino.

Eles ainda ressaltam que a partir do momento que um clube decide abrir seu capital na Bolsa, há uma cobrança ainda maior com relação à gestão financeira, governança e transparência da instituição, praticamente forçando-o a seguir um caminho de balanços mais saudáveis. “Isso tende a ser muito positivo, uma vez que boas administrações têm sido praticamente sinônimo de bons resultados esportivos nos últimos anos, vide o Palmeiras e o Flamengo”.

Volatilidade dos clubes listados

Por se tratar de um setor que mexe com a paixão de milhares de pessoas, há a preocupação com a maior volatilidade das ações de clubes-empresas que estão listados na bolsa. Porém, os especialistas concordam que apesar de suas especificidades, o retorno de investimentos em ações dos clubes são parecidos com os de outras companhias.

Os especialistas da GCB dizem que por se tratar de um setor complicado, onde a busca pelo equilíbrio entre finanças e paixão é uma missão constante, as ações de times como o Manchester United, Juventus, Borussia Dortmund e Ajax apresentam uma volatilidade bem superior ao de índices de seus países de referência.

“Embora o clube precise manter um alto nível de responsabilidade financeira e transparência, há milhões de torcedores apaixonados espalhados pelo mundo cobrando resultados e títulos. Isso significa que, para o clube ser forte/competitivo no futebol e disputar títulos, há a necessidade de grandes gastos com contratações, salários enormes, entre outras coisas.

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Já Marcos Motta afirma que apesar de ver a indústria do futebol ser regida pelas suas especificidades, ser um mercado absolutamente atípico, e que mexe com a paixão. A volatilidade dessas companhias de capital aberto no futebol seguem de alguma forma o movimento de mercado.

“Há essa alteração natural, essa volatilidade incrementada pela questão da paixão, mas eu acho também que há uma linha muito clara que tem que ser desenhada uma linha entre os assuntos que são para arquibancada, para imprensa e para a companhia”, destaca Motta reforçando que o investidor deve estar atento sempre a questões de governança como em empresas de outros setores.

Os especialistas ainda destacam que o futebol envolve muito dinheiro e diversos fatores impactam na cotação das ações desses clubes, como:

  1. Performance e classificação para campeonatos;
  2. compra e venda de jogadores e valorizações ou desvalorizações; 
  3. resultados operacionais;
  4. e até mesmo questões macroeconômicas e de eventos como a covid-19 e a guerra na Ucrânia.

Conheça grandes clubes que são listados em bolsas pelo mundo:

  • Manchester United (MANU) – Bolsa de Nova York (NYSE)
  • Juventus (JUVE) – Bolsa Italiana
  • Borussia Dortmund (BVB) – Bolsa de Frankfurt
  • Roma (ASR) – Bolsa Italiana
  • Ajax (AJAX) – Bolsa de Amsterdam
  • Celtic (CCP) – Bolsa de Londres
  • Benfica (SLBEN) – Euronext Lisboa
  • Lazio (LAZI) – Bolsa Italiana
  • Sporting (SPSO) -Euronext Lisboa
  • FC Porto (FCPP) – Euronext Lisboa

Para mais conteúdos de investimento, veja o Hub de Educação Financeira da B3.

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