Entrevistas

“Ter noção de investimento mudou nossa vida”, contam irmãos Natu

Da maior favela do País para a capital de São Paulo, Dave, Oli e Jooj falam o quanto aprenderam a lidar melhor com dinheiro

Irmãos Natu contam como lidam com finanças. Foto: Assessoria
Irmãos Natu contam como lidam com finanças. Foto: Assessoria

Do nada ao tudo. Os três irmãos Dave, Oli e Jooj saíram da maior favela do País, a Sol Nascente, em Brasília, que possui 32.081 moradores segundo o Censo 2022, para se tornarem um fenômeno nas redes sociais através do rap e de conteúdos bem humorados que fazem, agora, da capital de São Paulo. A noção de lidar com dinheiro, investimento, pressão e fé no próprio potencial musical foi a base de todo o sucesso.

Em entrevista ao Bora Investir, os irmãos Natu contam como foi subir as ‘escadinhas’ do sucesso nas redes sociais, em que, juntos, possuem mais de 30 milhões de seguidores em diferentes plataformas. “Em 2020, a gente decidiu tratar a música com a seriedade que a gente tratava financeiramente, porque estávamos colocando todo nosso dinheiro nisso”, diz Oli Natu.

De vendedores a cantores e influencers, eles ainda destacam a importância de se ter noção de investimento e do quanto isso mudou a vida deles. “Isso mudou muito a nossa cabeça, ainda mais de onde viemos. A gente tinha tanto medo de perder tudo, mas fomos trabalhando o dinheiro”, conta Dave Natu.

Além disso, ao final da entrevista você confere um quiz para conhecer o perfil financeiro de cada um dos irmãos Natu.

Confira a entrevista completa a seguir.

Bora Investir: Como foi o começo de vocês na música?

Oli Natu: “A gente começou na música na vertente que a gente queria, em meados de 2013, produzindo clipes e músicas, mas despretensiosamente. A cena musical do rap estava em uma crescente. Então, começamos a pegar todo o dinheiro que a gente ganhava enquanto trabalhava CLT e investimos tudo na música. De 2013 até 2020, fizemos só investimentos na nossa carreira, tudo que a gente conseguia investimos na música. Em 2020, a gente decidiu tratar a música com a seriedade que a gente tratava financeiramente, porque estávamos colocando todo nosso dinheiro nisso. Então, a gente tinha que tomar essa responsabilidade também no lado profissional, de ter horários das postagens e começamos a diversificar nossos conteúdos. Foi com constância junto com esse compromisso, porque a gente já tinha investido todo nosso dinheiro da vida naquilo, então, tinha que dar certo agora.”

Dave Natu: “Eu comecei na música há bastante tempo e depois entrei na internet por livre e espontânea pressão dos meus irmãos. Na época, o TikTok estava naquele início de que era coisa de criança, era uma rede social legal. Eu fui deixando de lado essa ignorância e criei minha conta, e depois abri um canal no YouTube. Depois cada um foi criando a própria conta.”

Jooj: “Eu comecei a fazer vídeo, Oli começou no TikTok antes de mim. O vídeo deu certo e eu comecei também a fazer todos os dias. Eu puxei Oli, e depois um foi puxando o outro, como uma escadinha.”

Bora Investir: No lado das finanças, como vocês se organizaram antes do sucesso? E depois?

Oli: “Cinco mais cinco é sempre mais fácil de resolver, com poucos números. A gente não colocou nada em planilha, mas a gente sempre se organizava com o aluguel em São Paulo, e ia vendo a base do quanto cada um ganhava e somava para ver o valor final. Em questão da música, a gente trouxe nosso estúdio dentro do carro, nosso computador e caixas. Então, não tivemos muito gasto de produção em São Paulo porque trouxemos nossas coisas para produzir. Tivemos ajuda de um amigo, Girão, que grava nossos clipes. A gente fazia nossa música no quarto de casa e ligava para ele e a gente ia na rua gravar o clipe. Quando chegamos em São Paulo, foi mais no sangue e nossa organização financeira foi mais para se manter porque o custo de vida é mais caro.”

Jooj: “O que a gente acabava investindo era o resto que sobrava depois que a gente acertava essas contas. Continuamos investindo na música, mas só direcionamos melhor. Juntava os três dinheiros, pagava as contas da vida, e o que sobrava a gente colocava na música.”

Bora Investir: E o nome do grupo? Como surgiu?

Dave: “O Natu é engraçado. Quando vamos criar uma empresa, sempre se busca um bom nome. Quando começamos a cantar, a gente queria buscar um nome. Foi bem rápido porque eu só juntei as siglas da palavra ‘nada’ e ‘tudo’, o que criou um conceito do nada ao tudo: Natu. Mas esse era o nome do grupo musical, até então. Mas depois que viemos para São Paulo, virou nosso sobrenome.”

Oli: “Virou da família. Minha mãe mesmo agora é Josélia Natu. Eles mesmo que colocam esse sobrenome e virou da família.” 

Dave: “Natu poderia ser até de nato, de ser um jogador nato. Mas é com ‘u’ porque é a junção das siglas dessas duas palavras, do nada ao tudo.”

Bora Investir: Em relação aos objetivos financeiros de cada um, o que vocês planejam fazer a partir de agora? E como estão se organizando?

Oli: “Era zero investimento no início. A gente tentava tirar leite de pedra, porque não tínhamos nada, mas estávamos focados em conseguir tudo. Até hoje buscamos alcançar o nosso tudo. Na nossa época, o nosso tudo era conseguir uma câmera para gravar o clipe. Esse era o foco. Agora, em outro patamar, você precisa buscar mais do que isso, então, esse nome lembra a gente de sempre estar buscando essa evolução, de buscar nosso tudo atual.”

Dave: “Seguimos isso como um lema. A gente acreditava que ia dar certo de uma forma que eu nem sei como explicar. A gente ia conseguir vingar. Tanto que fui em um tatuador em Brasília e fiz uma tatuagem na testa escrita em inglês, do nada ao tudo. Nosso lema. E não tinha dado certo ainda. Aos 13 anos, a mãe perguntava: ‘e o que você vai ser?’ Aquela conversa de mãe, porque nós sempre fomos meninos inteligentes. Nossa mãe era professora e nossa tia também. Então, o campo acadêmico nunca foi um problema para a gente, sempre fomos muito tranquilos, comunicativos também. Mas eu sabia que ia acontecer, que ia dar certo.”

Oli: “Quando Dave chegou com a tatuagem, eu olhei para Jooj e falei: ‘É, agora é sério. Agora a gente vai ter que fazer dar certo. Nem que a gente faça um fake a vida toda e crie um mundo para ele’.”

Dave: “Eu só ficava com medo deles mudarem o nome, porque daí ia ficar difícil. Eu sempre tive muita fé neles. Eu sou o mais velho e sempre olhei com muito brilho nos olhos, se der errado, a vida não existe. Depois que você cresce, aí gera um pouco de dúvida, mas naquela idade, de 13, 14 a 15 anos, eu enxergava eles como uma coisa certa.”

Jooj: “O meu foco, eu aprendi muito com Oli, a mexer com dinheiro. Minha mãe fala que Oli é um urso, porque ele guarda sempre para o inverno. Se ele precisar, ele tem os recursos do inverno. Então, no começo eu acho que exagerei um pouco. No meu YouTube tem o Google AdSense, que é o dinheiro que recebemos pelo conteúdo e, hoje, é uma das minhas maiores fontes de renda. Eu nunca tirei meu dinheiro dali, porque ele ia direto para minha conta de investimento, que fica investido. Então, nunca usei esse dinheiro. Eu deixo ele rendendo, porque tem que ter o do inverno. Vai que acontece vários invernos juntos, nunca se sabe. Porque dá para viver com o que eu ganho com Instagram e TikTok, mas da parte do YouTube eu deixo tudo lá guardado.”

Bora Investir: Como surgiu essa mentalidade de lidar melhor com o dinheiro?

Oli: “Eu e Dave sempre trabalhamos no lado comercial como vendedor. Então, eu mesmo fazia cotação de preços para saber a porcentagem para vender determinado produto. Eu pesquisava no mercado para saber o preço padrão para vender aquele produto. Então, essa questão de ser comerciante me ajudou a entender o quanto você tem que lucrar, o quanto dá para gastar e isso me treinou muito. Desde os meus 12 anos que comecei a trabalhar com público, já comecei sendo balconista, eu comecei a ter noção do dinheiro. E guardar dinheiro aprendi com minha mãe.”

Bora Investir: Como foi isso na prática?

Oli: “Se eu quero uma bicicleta, eu tinha que guardar tantos meses o meu dinheiro para juntar o suficiente para comprá-la, mas e se furasse o pneu? Eu investi tudo na compra, e aí? Eu tinha que pensar a longo prazo para conseguir o valor da bicicleta, mas saber que eu ia precisar de um valor a mais, caso acontecesse alguma coisa, algum imprevisto, porque eu não posso ficar zerado. Até hoje eu tenho esse pensamento, de investir em vários locais diferentes e não deixar tudo concentrado em um só lugar. A gente tem um pessoal do banco que nos acompanha e que vai setorizando esse investimento para não ficar tudo em uma coisa só. Além desse passivo, a gente sempre busca encontrar ideias para esse investimento retornar, seja em produto ou na própria música, ou algum projeto que tocamos juntos. O grão em grão de todo lado que conseguimos ter uma renda, com vários locais, caso um falhe, o outro comporta aquela falta. Procuramos variar nossos investimentos para ter uma renda saudável.”

Dave: “Quando falamos em investimento, a gente acredita que seria o dinheiro trabalhando por si só. Mas eu e meus irmãos sempre investimos em muitas áreas. Quando eu e Oli éramos menores, a gente cresceu com a ideia de trabalhar em um horário fixo e ter que se deslocar até o trabalho em apenas uma empresa. Hoje em dia a gente trabalha em um milhão de coisas diferentes. Quando o dinheiro começou a cair, investimos muito em equipamentos, para a gente ter um suporte porque assim daria para trabalhar em outros projetos. Quando eu era mais novo eu trabalhava em um shopping de um bairro bom, enquanto eu morava em um bairro ruim. Nisso eu via que eles [do bairro rico] lidavam com dinheiro de um jeito diferente.

Bora Investir: Pode dar um exemplo?

Dave: “Por exemplo, onde eu morava você ganhava R$ 1.500. A mentalidade dos que viviam no meu bairro era: vou estourar tudo numa festa ou não vou gastar nada. Quando eu fui trabalhar no bairro rico, eu via que eles entendiam o dinheiro de outra forma. Eles não eram apegados ao dinheiro, como colocar todo o dinheiro num investimento e esperar que outro dia ele retornasse o dobro do valor investido, por exemplo. Isso mudou muito a nossa cabeça, ainda mais de onde viemos. A gente tinha tanto medo de perder tudo, mas fomos trabalhando o dinheiro. Oli, por exemplo, trabalhou para comprar uma moto para ir para a faculdade. Então, antes de eu tatuar a minha testa com nosso lema, Oli vendeu a moto dele, que era a única coisa que ele tinha, que era a moto e um tênis. Ele vendeu a moto para comprar uma câmera para a gente gravar o clipe. Muitas pessoas não acham que isso é investimento, mas é sim. Investimos no amanhã, nem que seja comprando equipamentos e fazendo clipes melhores. Todos nossos clipes foram gravados com essa câmera, até abrir uma empresa para oferecer serviço de edição.”

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